Claret Contigo

Claret Contigo – 07 de fevereiro

Todos os dias uma meditação sobre as palavras do nosso Padre Fundador

“A Divina Providência sempre tem velado sobre mim de um modo particular” (Aut 7).

PROVIDÊNCIA EXPERIMENTADA

Alguém disse que para o cristão não existe o acaso, mas a Providência de um Deus que vela por nós e vai conduzindo nossa vida. O que acontece é que nem sempre é fácil viver assim, sobretudo, quando há acontecimentos que nos provocam muito desconcerto e sofrimento. Nossa fé na Providência se põe à prova.
Se repassarmos a vida de Claret, a encontraremos cheia de dificuldades, fracassos, perseguições… Parece que podem ser contados, pelo menos, quatorze atentados contra ele. Mas para ele contava pouco a materialidade dos fatos; era muito mais relevante o sentido dos mesmos, como ele os captava contemplando-os com os olhos da fé.
Mas, também acontece que, com o tempo, vamos vendo o sentido destes momentos dolorosos e obscuros, o que eles nos têm ajudado, ensinado, purificado… Vamos experimentando a verdade desta afirmação realmente inspirada de São Paulo quando diz: “Deus dispõe tudo para o bem dos que o amam” (Rm 8,28).
As diversas circunstâncias da vida, quando se vivem desde a fé, a confiança e o amor, sempre estão abertas à vida e ao crescimento, embora no momento pareçam negativas.

Você faz um exame da sua vida de vez em quando para ver e agradecer como Deus tem velado por você?

Tradução: Padre Oswair Chiozini,cmf

Claret Contigo – 06 de fevereiro

Todos os dias uma meditação sobre as palavras do nosso Padre Fundador

06 de fevereiro de 2020

“Não é possível ser boa religiosa no convento quem em casa não foi boa filha”. (Religiosas em suas casas ou as filhas do Santíssimo e Imaculado Coração de Maria. Barcelona 1850, p. 97. Ed. crítica, em Madri 1990; p. 146).

SANTIDADE EM TODOS OS ESTADOS DE VIDA

Às vezes se fala de vocações de “especial consagração”, como se Deus as reservasse para homens e mulheres “especiais”: sacerdotes, religiosos ou religiosas, vida consagrada em geral… Desde o Vaticano II se procuram outras expressões, que eliminem qualquer conotação de superioridade destas vocações sobre a vocação laical, matrimonial, etc. embora não seja fácil encontrar uma terminologia adequada para expressar igualmente o comum e o diferente. Em todo caso, o pensamento de hoje nos dá uma boa pista para não confundir o discernimento.

Por um lado, nem as religiosas nem os sacerdotes são pessoas feitas “de outra matéria”. São do mesmo barro que o resto de seus irmãos crentes, com suas grandezas e suas misérias. Deus dá a graça para viver o que Ele mesmo pede, mas não modifica nossa natureza, nossos dons ou carências. Nem a profissão, nem a ordenação fazem alguém de uma raça superior, como nem mesmo o batismo nos diferencia eticamente dos demais seres humanos.

Mas continua sendo necessário que cada um de nós coloque a sua parte, ajudado pela graça. A bondade de uma vocação vem da fidelidade da pessoa à vontade de Deus e a acolhida da sua graça. Ninguém é bom automaticamente, por arte mágica, ou por vestir um hábito.

Mas, por outro lado, não é admissível o que se diz falsamente, de que os que não servem para outro tipo de vida serão bons sacerdotes ou religiosas. Poderíamos continuar a afirmação: se não tiver capacidade para ser boa esposa, boa mãe, bom pai, bom amigo… será impossível servir para a outra vocação a que é chamado.

E você, como vive a fidelidade à sua vocação? Tende a dar duro somente em situações extraordinárias? Como vive a vida ordinária de cada dia?

Tradução: Padre Oswair Chiozini,cmf

Claret Contigo – 05 de fevereiro

Todos os dias uma meditação sobre as palavras do nosso Padre Fundador

05 de fevereiro de 2020

“O cristão que comunga bem e com frequência pode dizer: “Vivo eu, porque sou homem como antes; mas já não sou o que era antes, sou o homem novo que recebi na comunhão, sou o que está em mim”. Como diz Jesus: “Quem come minha carne e bebe meu sangue, permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai que me enviou está vivo e eu vivo pelo Pai, assim também o que come minha carne viverá por mim”. Portanto, quem comunga bem e com frequência, pode dizer com o Apóstolo que ninguém, nem nada é capaz de separá-lo da caridade de Jesus Cristo e que tudo pode naquele que o conforta” (Carta Ascética… ao presidente de um dos coros da Academia de São Miguel. Barcelona 1862, p.34s).

TESTEMUNHAS DO EVANGELHO

Para a Igreja, o primeiro meio de evangelização é o testemunho de vida. O evangelizador é, em primeiro lugar, testemunha do Evangelho, que é a vida e mensagem de Jesus, revelador do Pai. O apóstolo é convidado a ter uma vida entregue, sincera e inteiramente a Deus e ao bem do próximo, com um zelo sem limites. Santo Antônio de Pádua, Santo Patrono de Claret (Aut 102), cuja biografia o motivava (cf Aut 226), diz em um dos seus sermões: “A palavra tem força quando vai acompanhada das obras. Parem, por favor, com as palavras, e sejam as obras a falarem”.
A chave deste testemunho está, segundo Claret, na boa e frequente participação da Eucaristia. Unindo-se a Cristo no sacramento do seu Corpo e Sangue, o cristão se configura com Ele, chega a viver plenamente sua vida, caracterizada pelo amor oblativo, de entrega para o bem da humanidade, segundo o desígnio do Pai.
Este amor é a atmosfera que caracteriza a vida do servidor do Evangelho. Amor que o levará não só a imitar a Cristo, mas a identificar-se com Ele. Seu agir e seu pensar serão os mesmos de Cristo. Converter-se-á, como Jesus, em fiel cumpridor da vontade do Pai: que todos os homens se salvem e alcancem a verdade plena.

Todos nós devemos ter a profunda convicção de que o maior serviço que podemos prestar a nossos irmãos é a evangelização. É o caminho de transformação da humanidade desde dentro, possibilitando a chegada de um homem novo. O evangelizador é a testemunha fiel do advento do Reino, o instrumento válido para que todos tenham vida em Deus e a tenham em abundância.

Neste momento, o que preciso reforçar em minha vida para que ela se converta em testemunho crível da mensagem de Jesus para as pessoas com quem me relaciono?

Tradução: Pe. Oswair Chiozini,cmf

Claret Contigo – 04 de fevereiro

Todos os dias uma meditação sobre as palavras do nosso Padre Fundador

04 de fevereiro de 2020

“Desde o princípio me encantou o estilo de Jesus Cristo em sua pregação. Que comparações! Que parábolas! Eu me propus imitá-lo com comparações, semelhanças e estilo simples” (Aut 222).

COM JESUS COMO MODELO

Há muitos que atualmente preferem “seguir a moda” a “ter estilo”. Não é o mesmo, embora na linguagem coloquial se usem expressões como se fossem sinônimos. Não se trata de frases sinônimas simplesmente.

“Seguir a moda” se reduz a mimetizar externamente o que quase todos, ou a grande maioria, fazem, dizem, pensam ou vestem. É uma atividade superficial e de pouca conta; por isso sua existência é efêmera. Não há nada que passe tão velozmente como o estar na moda. Mas seu aspecto mais sombrio é que implica entregar-se a gostos alheios, anular a própria personalidade, eliminar o pessoal enquanto distinto e, como resultado, nivelação por baixo.

“Ter estilo” é outra coisa. Afeta o ser. Toca fundo. O estilo é este algo indefinido, mas real, que permite mostrar por fora uma beleza genuína que tem sua fonte, dentro. O estilo é inconfundivelmente pessoal. Não se repete, embora se contagie. É sedutor, embora inimitável. Não permite cópias. E não perde sua elegância, por mais que o tempo imponha sua lei.
Claret foi um “homem com estilo”. Aprendeu de Jesus. O Mestre de Nazaré penetrou nele muito mais profundamente que os desenhos de tecidos, aos quais Claret se dedicou com paixão e com êxito em sua juventude. O estilo de Claret se conformou imitando Jesus. Que tem Jesus que tanto consegue transformar? Desde criança e até a sepultura… Até depois inclusive!… Claret teve estilo. Inconfundivelmente missionário. Estilo que jamais passará de moda.

Podemos fazer uma parada no caminho diante destas palavras. E fazemos estas perguntas essenciais que somente poderemos responder se buscarmos a verdade. Quando olho para Jesus, que vejo? Quando os demais me olham, que veem? As respostas falarão, sem sombra de dúvidas, de “estilo”.

Tradução: Padre Oswair Chiozini,cmf

Claret Contigo – 03 de fevereiro

Todos os dias uma meditação sobre as palavras do nosso Padre Fundador

03 de fevereiro de 2020

“Tenha presente que no fim da vida está a morte; pense naquilo que você faz, pense na prestação de contas que o espera, pense no prêmio ou na pena eterna; o que pertence a este mundo dura um sopro e a felicidade em Deus ou padecer, é para sempre” (Avisos a um sacerdote que acaba de fazer os exercícios de Santo Inácio. Barcelona 1846, p. 66).

PEREGRINO NO MUNDO

Somos passageiros e peregrinos neste mundo. Vivemos uma fase da vida. Esquecemos, em meio a tantas preocupações, que somos seres vivos e que, portanto, em nossa existência se faz presente a morte como uma situação irremediável e limite para o homem. A que serve ao homem viver agitado, sem tempo, ocupado e preocupado, se não vive sua vida em paz, em amor, em plenitude? A proposta de Jesus é que tenhamos vida e a tenhamos em abundância.
Certamente nossa vida terrena não é nada desprezível (talvez alguns pregadores e autores ascéticos no tempo de Claret tenham caído neste erro). O mundo é bom e a história humana também: “Deus contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). É bom por ser criatura de Deus e, ainda mais, porque o Filho se encarnou nesta matéria e nesta história e, com sua ressurreição, a glorificação de tudo isto já começou.
Não é justa a acusação que alguns lançam contra os cristãos de terem-se esquecido do mundo presente por terem sua atenção colocada no futuro. Quem se ocupou do bem atual da humanidade mais que os cristãos? Quem acolheu respeitosamente os escravos do mundo greco-romano? Quem se adiantou no ocidente a criar hospitais e universidades e se empenhou na alfabetização generalizada? Não foi por acaso a Igreja e, especialmente, suas ordens religiosas?
Apesar disto, continua sendo certo que a “imagem deste mundo passa” (1Cor 7,31). Nada do que é temporal é digno da nossa “afeição” definitiva: Nós esperamos “um novo céu e uma terra nova em que habite a justiça” (2Pd 3,13). Nossa nobre tarefa é fazer que no presente se refletisse esta glória futura.


Que a passagem por este mundo seja caminho para a plenitude da vida.
O que nos ocupa e nos preocupa na vida? Estamos sempre conscientes da nossa condição de criaturas?

Tradução: Padre Oswair Chiozini,cmf

Claret Contigo – 02 de fevereiro

Todos os dias uma meditação sobre as palavras do nosso Padre Fundador

02 de fevereiro de 2020

“Os justos (…), seguindo o sólido e reto caminho da justiça, em que se encontram, são já felizes, na medida do possível sê-lo neste infeliz mundo e embarcados no trem da vida, vão e correm muito, sem parar, para a pátria, onde chegarão logo e com segurança” (O trem. Barcelona 1857, p. 11s)

OPÇÃO PELA JUSTIÇA

Os justos… palavra pouco frequente em nosso vocabulário cotidiano. Quem são os justos? Os que fazem as coisas corretamente? Os que dão a cada um o que lhe pertence? Os que pretendem amar a Deus, mas sem preocupar-se com os demais?
A palavra justiça no vocabulário bíblico significa muito mais que no âmbito jurídico. O Sínodo dos Bispos de 1971, no seu documento “A justiça no mundo”, faz uma boa síntese:
“No Antigo Testamento, Deus se revela a si mesmo como libertador dos oprimidos e defensor dos pobres, exigindo dos homens a fé n’Ele e a justiça com o próximo. Somente na observância dos deveres de justiça se reconhece verdadeiramente Deus libertador dos oprimidos. Cristo, com sua ação e sua doutrina, uniu indissoluvelmente o relacionamento do homem com Deus e com os demais homens. Cristo viveu sua existência no mundo como uma doação radical de si mesmo a Deus para a salvação e a libertação dos homens. Com sua pregação proclamou a paternidade de Deus sobre todos os homens e a intervenção da justiça divina a favor dos pobres o oprimidos (Lc 6,21-23). Desta maneira, Cristo mesmo se fez solidário com estes seus ‘pequenos irmãos’, até chegar a afirmar: ‘Todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes’(Mt 25, 40)”.
O compromisso pela justiça e pela paz não é um acessório na vida cristã; surge das mesmas entranhas da fé. Ser justo é realizar o sonho de Deus sobre nossa vida e a justiça consiste em que a humanidade inteira responda ao sonho do seu Criador… E Deus sonha com que todos sejamos irmãos e a humanidade inteira goze dos bens da terra enquanto caminha até os bens eternos.

Estou comprometido com a Justiça, a Paz e a Integridade da Criação?

Tradução: Padre Oswair Chiozini,cmf.

Claret Contigo – 01 de fevereiro

Todos os dias uma meditação sobre as palavras do nosso Padre Fundador

01 de fevereiro de 2020 – (atentado Holguín)

“Não posso deixar de explicar o prazer, o gozo e a alegria que sentia minha alma, ao ver que havia conseguido o que tanto desejava, que era derramar meu sangue por amor de Jesus e de Maria e poder selar com o sangue de minhas veias as verdades evangélicas” (Aut 577)

MARTÍRIO GOZOSO PELO EVANGELHO

Aconteceu no dia 1º de fevereiro de 1856, ao entardecer. Claret acabava de pregar em uma igreja de Holguín (Cuba), quando uma pessoa o feriu gravemente com uma navalha. O Arcebispo Missionário experimentou dentro de si a alegria que expressam estas palavras da Autobiografia. Teve a sensação de quem se sente, em meio à dor e às perseguições, confirmado na missão que desempenha. O selo do sangue derramado nesse atentado o faz assemelhar-se a Cristo, seu Senhor. Anos mais tarde expressaria esta mesma convicção diante dos Padres Conciliares do Vaticano I em Roma. Estava já perto da sua morte, depois de uma vida entregue inteiramente ao serviço do Evangelho. Somente lhe faltava a coroa do martírio, e a desejava.
Há heróis e mártires que derramam o sangue por uma causa justa e grande. A pátria e as igrejas conhecem estes gigantes a quem se levantam monumentos ou são colocados nos altares. O livro do Apocalipse enaltece aqueles membros da igreja, enamorados da sua fé e seguidores entusiastas do seu Senhor, que tiveram que sofrer o martírio e deles fala com orgulho: “desprezaram a vida até aceitar a morte” (Ap 12,11).
Mas dar a vida não é somente derramar o sangue. É entregar cada momento, é cuidar dos pequenos detalhes, é amar cada pequeno esforço que fazemos pela felicidade dos demais. Não há tantos monumentos ou altares dedicados a quem cuida de enfermos, atende sua casa, trabalha pela família, a quem é cidadão comum cumprindo seus deveres, a quem fortalece sua igreja sendo simplesmente transparente e leal.

É uma pena que isto nem sempre se conhece, porque ficam ocultos muitos testemunhos dignos de serem admirados e capazes de estimularem a outros; sua visibilidade à sociedade e à Igreja seria capaz de iluminar a muitos em sua caminhada na prática do bem e em seu ideal por melhorar nosso mundo.

Tradução: Padre Oswair Chiozini,cmf

Claret Contigo – 31/01

Todos os dias uma meditação sobre as palavras do nosso Padre Fundador

31 de janeiro de 2020

“Se um homem atirasse uma bala com as mãos, bem pouco mal faria; mas, se esta mesma bala for atirada pelo fogo da pólvora, mataria. Assim é a divina palavra. Se se diz naturalmente, bem pouco faz, mas, se é dita por um Sacerdote cheio de fogo de caridade, de amor de Deus e do próximo, feriria vícios, mataria pecados, converteria os pecadores e operaria prodígios”. (Aut 439).

PALAVRA DE FOGO

Os ocidentais se tornaram muito intelectualistas: vão sem mais nem menos ao “conceito”, a ver o “que” nos é dito. Mas os filósofos da linguagem sabem que este não é somente informativo; frequentemente importa mais o aspecto interpelativo: se fala ou se escreve a alguém porque se quer suscitar no outro uma atitude, chegar ao seu coração, à sua sensibilidade.
Os líderes políticos não se conformam com difundir friamente um programa eleitoral escrito, mas o “pregam”: percorrem a nação descabelando-se diante de multidões para entusiasmá-las em uma direção determinada. Não só “falam”, mas “gritam”; às vezes “vociferam”.
O Padre Claret não foi daqueles pregadores estrondosos: “suavidade em tudo”, dizia dele seu amigo, o filósofo Balmes. Mas é indiscutível que punha “calor” na palavra; dava a entender que o que dizia não só o “sabia”, mas que o “saboreava”, o “sofria”, era algo que “lhe queimava” e desejava inflamar os outros. Queria tocar os corações tanto ou mais que as mentes. Era uma palavra, além de informativa, testemunhante.

Jesus veio “trazer fogo à terra” (Lc 12, 49); e Claret queria “inflamar todo o mundo no fogo do divino amor” (Aut 494). Aos seguidores de Jesus e de Claret é recomendado fazer realidade este objetivo; não devemos ser demagogos (agitadores de massas), mas ser testemunhas convencidas da nossa fé; devemos mostrar que com ela gozamos porque “nos tocou uma parte bela, nos encanta nossa herança” (cf. Salmo 16). Quando um enamorado fala da sua noiva, não o faz em tom meramente “objetivo”, mas “vibrante”. Quando um crente confessa sua fé, não lhe é permitido que as palavras “lhe caiam”: o tom, o “calor” e o carinho são tanto ou mais persuasivos que o racional.

Tradução: Padre Oswair Chiozini,cmf

Claret Contigo – 30 de janeiro

Todos os dias uma meditação sobre as palavras do nosso Padre Fundador

30 de janeiro de 2020

“Algumas vezes, o Senhor me fazia sentir os efeitos da pobreza, mas era por pouco tempo. Logo me consolava com o necessário; e era tanta a alegria que sentia com a pobreza, que não gozam tanto os ricos com todas as suas riquezas como gozava eu com minha amadíssima pobreza” (Aut 363)

ALEGRIA NA POBREZA

Uma pessoa não familiarizada com a vida e os ideais evangélicos se precipitaria em interpretar esta experiência como masoquismo. É a doentia tendência atual do ocidente a desqualificar muito o que foram as práticas cristãs; não faria o mesmo com as sentenças de Confúcio ou Lao-Tseu que vão nesta mesma direção.
A vida de Claret foi, externamente falando, de muita dor, fracassos, desencantos. A pobreza real, não a idealizada ou imaginária, leva consigo privações e sofrimento. Enquanto isto não acontece, o que se imagina seguidor de Cristo pobre é um iludido. Os estudiosos das bem-aventuranças evangélicas dizem que as três primeiras, segundo a versão de Lucas, mais próxima do original, se reduzem à primeira, pois a aflição e a fome são as manifestações normais, imediatas, da pobreza.
A segunda parte da frase de Claret tem uma clara ressonância franciscana: o pobrezinho de Assis não quis ser dono das coisas, mas irmão delas; e desfrutou desta peculiar “fraternidade”. Claret, menos poeta, vai em direção um tanto diferente: teve a alegria de viver literalmente o projeto que Jesus traçou para seus seguidores. Mas não está muito fora da alegria da liberdade “franciscana”. Naquela época de incipiente industrialização e da burguesia doente de competitividade por ver quem tem mais, Claret desfruta de uma paz invejável: “Nada tinha, nada queria e tudo recusava” (Aut 359).

Se Claret conheceu a canção do Pirata, do seu contemporâneo Espronceda, teve que identificar-se com algumas de suas estrofes: “Lá movem feroz guerra / cegos reis / por um palmo a mais de terra / e eu tenho aqui como meu / quanto abrange o mar bravio / a quem ninguém impôs leis”.

Tradução: Padre Oswair Chiozini,cmf

Claret Contigo – 29 de janeiro

Todos os dias uma meditação sobre as palavras do nosso Padre Fundador

29 de janeiro de 2020

“Reconheço muito bem que sem um auxílio especial do céu seria impossível suportar tão difícil e prolongado trabalho desde o ano de 1840 até 1847, quando fui às Ilhas Canárias” (Aut 305).

LEVADO PELA GRAÇA DE DEUS

O Padre Claret tal como reflete este texto, dedicou sete anos à missão em terras da Catalunha. Prestando atenção ao que investigaram alguns filhos seus apaixonados por conhecer e divulgar sua obra e sua figura, chama a atenção que neste lapso de tempo tenha visitado mais de 100 povoados, dedicando a cada um deles entre dez e quinze dias e indo de um a outro a pé para encarnar melhor o estilo de Jesus. Seu trabalho daqueles anos foi verdadeiramente ímprobo se se somam às suas missões populares os exercícios espirituais e o início das publicações. A soma de dias de viagens, pregação e trabalhos pastorais lhe consumiam todo o tempo.
Tanto ele como seus biógrafos atribuem esta resistência e capacidade de dedicação a tempo pleno a uma assistência especial da graça de Deus. Aquela dedicação total aos serviços de evangelização, de trabalho e de solidariedade contínua despertando admiração e até estranheza; como foi possível? Ao longo da história se encontram figuras cuja força e entrega sem medidas foram causa de elogio, de admiração e também de incompreensão e inveja de traidores. Nem isso faltou a Claret.
Em nossos tempos se lamenta a carência de modelos de identificação e se procuram pessoas e exemplares, “sedutoras” para a juventude, que às vezes somente sabe admirar o esportista ou o artista que às vezes estão alheios das nobres causas da humanidade. Não existem figuras cheias de humanidade num mundo que padece de uma profunda crise de valores. Na esfera do religioso nos faltam santos atuais, “modernos”, que proponham uma radicalidade de vida chamativa e questionadora.

Quando nos encontramos com figuras como Claret, sua vida e realizações, estas figuras parecem ser tão transbordantes que geram em nós a certeza de que, em seu agir, se manifesta algo que supera as normais capacidades humanas: é a graça de Deus, sem cujo poder tais realizações seriam inexplicáveis. Devemos também decidir-nos a entregar toda nossa vida a Deus, este Deus que pode nos transformar e nos impelir de maneira fora do comum.

Tradução: Padre Oswair Chiozini,cmf