Claret Contigo

Claret Contigo – 25 de outubro

Todos os dias uma meditação sobre as palavras do nosso Padre Fundador

25 de outubro de 2020

“O estilo de vida que me propus desde o princípio foi o do santo Evangelho: simplicidade e transparência” (Aut 297).

FACILITAR A MENSAGEM

Claret vive em uma época em que a pregação se caracterizava por uma oratória pomposa e, amiúde, oca, mais preocupada com a forma que com o conteúdo evangélico. Ele, homem de procedência popular, não está interessado em impressionar o auditório, mas em apresentar com clareza a verdade do Evangelho. Não se inspira nos manuais de oratória da época, embora em sua biblioteca existissem boas coleções de sermões, mas, sobretudo, no estilo de Jesus. Poderíamos dizer dele o que se afirma de Jesus no evangelho de Marcos: “Servia-se de muitas histórias e parábolas para anunciar a palavra de modo que todos pudessem compreender. Não lhes ensinava nada senão em parábolas” (Mc 4,33-34).

Em sua Autobiografia, Claret usa também um estilo simples e popular, à base de parábolas, comparações e imagens. Entre as muitas que usou, podemos destacar a da frágua, para fazer referência a um processo de transformação interior, do mel, para explicar o poder de atração da mansidão, as duas pontas do compasso, para falar da vida contemplativa e ativa, ou sua referência aos animais: cão, galo, burro, etc. Estava convencido de que uma imagem se guarda melhor que uma palavra.

Hoje, tempo em que vivemos do visual, teríamos que servir-nos também das imagens que usam o cinema, a televisão, a internet, para fazer chegar o Evangelho de forma que o povo simples possa entendê-lo. A linguagem conceitual torna-se difícil para a maioria. Humanamente falando, o êxito de Claret, como missionário, só se explica desde sua capacidade de falar a linguagem do povo e de conectar o Evangelho com as experiências da vida ordinária, exatamente como fazia Jesus em sua pregação. Claret não foi um teólogo, nem um pensador; nem pretendeu sê-lo. Foi, sobretudo, um pregador popular.

Tradução: Padre Oswair Chiozini,cmf

Claret Contigo – 24 de outubro

Todos os dias uma meditação sobre as palavras do nosso Padre Fundador

24 de outubro de 2020 – (morte de Claret)

150º Aniversário de sua morte (1870 – 2020)

“Parece-me que já cumpri minha missão. Em Paris, em Roma preguei a lei de Deus: em Paris, como na capital do mundo e em Roma, capital do catolicismo; fiz oralmente e por escrito. Observei a santa pobreza, doei o que me pertencia e hoje em dia, graças a Deus não recebo nada, nem da diocese de Cuba, nem da Rainha” (Carta a D. Paladio Currius, 2 de outubro de 1869, em EC II, p. 1423).

A ALEGRIA DA META

Em outubro de 1869, exatamente um ano antes de morrer, Claret escrevia desde Roma, onde se preparava para participar do Concílio Vaticano I, a seu grande colaborador, amigo e confessor, D. Paládio Currius. Reconhecia humildemente ter sido fiel à missão recebida, ter dado tudo; agora, esgotado e enfermo, se preparava a dormir em paz. O Senhor lhe havia concedido a sorte de trabalhar pelo evangelho, em escala não imaginável, na África (Canárias), América (Cuba) e Europa e nas duas cidades mais simbólicas do mundo: Paris, capital do império e Roma, capital da cristandade. Sentia a alegria de que ia morrer pobre e esquecido pelos grandes da terra: seus bens eram outros! Impossível não perceber em suas palavras um eco das de Paulo a Timóteo: “Estou a ponto de ser derramado em libação e o momento de minha partida é iminente. Combati o bom combate, cheguei à meta, guardei a fé” (2Tim 4,6-7). Claret tinha também muito claras em seu coração estas outras palavras do Apóstolo: “Ninguém de vocês vive para si mesmo; e nenhum morre para si mesmo. Se vivemos, vivemos para o Senhor; se morremos, para o Senhor morremos; assim, quer na vida, quer na morte, ao Senhor pertencemos” (Rm 14,7-8).

Somente quem se entrega vive profundamente. Porque uma coisa é viver e outra ser vivido, levado pelo que acontece, por outros, sem colocar paixão nem consciência. E quem se entrega chega finalmente em paz ao descanso no Senhor, que era sua meta.

Depois de uma vida de trabalhos e penas, o grande místico São João da Cruz traçava assim o desenlace: “fiquei e me esqueci / o rosto reclinado sobre o Amado / tudo acabou e me entreguei / deixando meu querido / entre as flores esquecido”. Descansaria sereno na consumação do esperado, como escrevia outro claretiano: “E cheguei, de noite, com o feliz espanto de ver, por fim, que andei, dia após dia, sobre a mesma palma da Tua mão…” (Casaldáliga).

Tradução: Padre Oswair Chiozini,cmf

Claret Contigo – 23 de outubro

Todos os dias uma meditação sobre as palavras do nosso Padre Fundador

23 de outubro de 2020

“Arranque do seu coração toda soberba, que é a raiz e o princípio de todos os pecados” (Avisos a um sacerdote: que acaba de fazer os exercícios de Santo Inácio. Vic 1844; p. 5).

SÓ JESUS É O SENHOR

Salamanca. Verão. Fazia muito calor, o povo procurava não sair pelas ruas. No entanto, pelas ruas nos cruzamos: eles, avô e neto, iam adiante de mim. Passei por eles exatamente quando eles olhavam uma vitrina. Ao passar, ouvi o comentário do menino: “vô, como você para diante de todos os negócios, eu não vou levá-lo mais de passeio!” Apertei o passo dando risada. Meu olhar se cruzou, sorridentes ambos, com o olhar do avô. Não era para menos; o pequeno pensava que era ele que levava pela mão seu avô.

A imagem passa de vez em quando pela minha cabeça. Não acontece o mesmo conosco quando consideramos nossa relação com Deus? Realmente, quem leva quem? Não poucos, eu inclusive, vivem como se levassem Deus de passeio, como se fossem o agente principal, o senhor, e Ele o ajudante. A cena do menino nos provoca risada; sua aplicação a nós mesmos deveria provocar-nos pena.

Em todo caso, o mais provável é que Deus ria de nós, como nós rimos do menino. Realmente é isso o que somos: criança que se crê catedrático. Cuidado com a soberba! Como nos adverte Claret, não é boa companheira; ao contrário, abre a porta a atitudes perigosas que nos faz muito mal.

São Paulo pensava ser enviado a suscitar nos pagãos ‘a obediência da fé’ (Rm 1,5), que parece deva ser interpretada como ‘a fé que se traduz em obediência’, em deixar a Deus fazer; isto é, justamente o contrário da autossuficiência, esta atitude radicalmente não é conciliável com o evangelho.

Você continua saindo de passeio, mas não pense que é você que leva o Senhor, ele sabe sair sozinho.

Quem governa sua vida? Quanto de escuta tem sua oração? Em que medida deixa que o Senhor possa ser realmente “Senhor”?

Tradução: Padre Oswair Chiozini,cmf

Claret Contigo – 22 de outubro

Todos os dias uma meditação sobre as palavras do nosso Padre Fundador

22 de outubro de 2020

“Se quiser crescer na contemplação e na união com Deus seja homem de oração, pois na oração se recebe a unção do Espírito Santo, que ajuda o entendimento e com o exercício da oração se adquire a contemplação e o gosto pelas coisas celestiais” (Diálogos sobre a oração, em T. DE VILLACASTÍN, Manual de Exercícios Espirituais. Barcelona 1864; p. 14).

ORAR É INTERIORIZAR

Mostrando mais uma vez sua pedagogia, Claret apresenta a oração como a mediação necessária para quem quer conseguir uma série de objetivos desejáveis para um discípulo de Cristo. Sua formulação, feita com a linguagem do século XIX, pode soar esquisita, mas seu conteúdo é muito atual e fácil de entender.

A oração ajuda a superar tribulações e tentações, a combater os maus costumes, a adquirir virtudes e a extirpar vícios, a viver com alegria os momentos complicados, a progredir no caminho do Espírito, a manter com constância o propósito de responder e servir o Senhor. A oração é um dos meios privilegiados que o Espírito usa para atualizar sua presença em nós. Batizados e ungidos pelos sacramentos da iniciação, através da oração o Pai reaviva em nós sua graça, fortalece nosso ânimo e nos adestra para combater o mal.

Claret usa uma expressão muito bela: convém a nós sermos ‘homens e mulheres de oração’. Vivemos em culturas que privilegiam o instantâneo, o fulminante, o vertiginoso. Mas algumas das realidades mais valiosas da vida (o amor, a beleza, o perdão, a bondade, o serviço, a gratidão) requerem tempo e crescem e florescem em processos lentos, não isentos de dificuldades, onde a constância tem um grande papel. Não se trata de ter brilhantes momentos de oração, mas de se converter em pessoas que se distingam pela oração com frequência e com constância. Uma vez mais Claret nos mostra o bom caminho.

Você é uma pessoa orante ou só rezador? Foi pouco a pouco tendo gosto pelas coisas celestiais?

Tradução: Padre Oswair Chiozini,cmf

Claret Contigo – 21 de outubro

Todos os dias uma meditação sobre as palavras do nosso Padre Fundador

21 de outubro de 2020

“Somos onze irmãos: seis homens e cinco mulheres, que enumerarei por ordem, citando o ano em que nasceram. 1º Rosa, nascida em 1800, casada, viúva hoje, muito trabalhadeira, honrada e piedosa; foi a que mais me dedicou carinho; 2º Mariana, nascida em 1802, morreu aos dois anos; 3º João, nascido em 1804, herdeiro de todos os bens da família; 4º Bartolomeu, nascido em 1806, morto aos dois anos; 5º Eu próprio, nascido em 1807 ( = 1808); 6º Uma irmã, nascida em 1809, falecida após o nascimento; 7º José, nascido em l810, casado; teve duas filhas, que se tornaram Irmãs de Caridade ou Terciárias; 8º Pedro, nascido em 1813, falecido aos quatro anos; 9º Maria, nascida em 1815, tornou-se Irmã Terciária; 10º Francisca, nascida em 1820, falecida aos três anos; 11º Manuel, nascido em 1823, morreu aos treze anos, após os estudos de Humanidades em Vic” (Aut 6).

O DOM DOS IRMÃOS NA FAMÍLIA

Ninguém vem sozinho a este mundo. Você nasce em uma família, como filho e, em muitos casos, tem irmãos e irmãs. A relação paterno-filial e a fraterna são tão íntimas que nos fazem sofrer profundamente quando alguém da família sofre e nos alegramos intimamente com suas alegrias. Nosso vínculo familiar é como um espelho no qual nos vemos no outro. O sentido de pertença e a responsabilidade para com o outro não são elementos acrescentados: são, antes, laços bem naturais que nascem e permanecem até à morte. Neste sentido, a família é a primeira escola e os pais são os primeiros educadores.

Quando o Padre Claret nos fala dos seus onze irmãos, vai explicando a relação mútua entre eles. De sua irmã maior, Rosa, recebeu um carinho especial (Aut 6.1); ela o iniciou na sua devoção mariana. Na enfermidade do seu irmão maior, João, o Padre Claret o apoiou economicamente quanto pode. Com seu irmão menor, José, tinha muita confiança e em sua casa de Olost se hospedou durante alguns momentos críticos. Este, por sua vez, o ajudou a tomar consciência da situação política e social diante das suas andanças missionárias. Sua irmã menor, Maria, com este nome inspirou o Padre Claret a proximidade e a devoção filial a Nossa Senhora. Como ela ajudava o Padre Claret na paróquia de Sallent, teve a graça de aprender do seu irmão as virtudes que ele praticava. O irmão menor, Manuel, era um irmão ‘muito querido’ porque santo.

Ser filho e irmão é um dom e um compromisso. É um dom para partilhar alegrias, esperanças e também dores com outros, sentindo-se acompanhado, apoiado, consolado. Leva consigo o compromisso de cuidar de outros e nos educa a uma melhor vida social. A convivência com outros e a experiência da sua compreensão são fatores decisivos na construção da pessoa, na preparação para a amizade, para a futura colaboração no mundo da empresa ou nas preocupações sociais; o ‘vivido dentro’ costuma ser determinante para saber logo mover-se no âmbito exterior.

Tradução: Padre Oswair Chiozini,cmf

Claret Contigo – 20 de outubro

Todos os dias uma meditação sobre as palavra do nosso Padre Fundador

20 de outubro de 2020

“O que Deus quer de vocês é que façam bem o que já estão fazendo, em paz interior, em silêncio, sem queixas nem lamentações do próximo, nem das coisas, mas que tudo façam com constância e tranquilamente, crescendo cada dia na pureza e retidão de intenção e com todo coração” (Carta Ascética… ao presidente de um dos coros da Academia de São Miguel. Barcelona 1862, p.8).

FAZER BEM AS COISAS ORDINÁRIAS

Um princípio muito antigo de espiritualidade dizia que se deve ser “in ordinariis non ordinarius”, que poderia ser traduzido como “fazer a própria atividade com elegância”, isto é, evitando a ordinariedade.

Às vezes pensamos que a santidade consiste em fazer coisas grandiosas, ‘extraordinárias’. É um grande erro. Já São Paulo exortava a “fazer o próprio trabalho com tranquilidade” (1Tes 4,11); e Santo Inácio de Loiola, diante de algumas objeções de São Francisco Xavier quanto ao iniciar um novo rumo, deu-lhe a resposta que José Maria Pemán colocou em versos: “Xavier, não existe virtude mais eminente que fazer simplesmente o que devemos fazer”.

Com relação a isto, vale a pena recordar uma simpática anedota de Claret no noviciado jesuíta de Roma. Quando, cada quinta feira, os noviços iam fazer esporte em um campo ao lado da casa, ele teria preferido dedicar o tempo ao estudo ou a oração, mas o mestre não lhe permitiu, e “me respondeu redondamente, diz Claret, que jogasse e que jogasse bem. Eu coloquei tanto empenho em jogar bem, que ganhava todas as partidas” (Aut 149).

Claret, sempre compreensivo com os outros, não gostava das coisas feitas pela metade. São dignas de nota suas queixas contra os que dirigiam a Livraria Religiosa ou trabalhavam para ela quando não escolhiam bom papel ou bom tipo de letra, ou não faziam boa encadernação. Optou sempre por coisas bem feitas. Mas nem sempre se conformava com a materialidade da obra. Interessava-se com o ‘por que’ e com o ‘para quê’ do serviço: a retidão de intenção; conhecemos sua repetida fórmula: ‘fazer tudo para que Deus seja conhecido, amado e servido’.

Atualmente se fala muito de ‘autorrealização’: o que fazemos deve ser plenificante, humanamente enriquecedor; as frustrações não são sadias. Mas também não o é a busca ansiosa pelo ‘auto brilho’, ou por sobressair acima dos demais. São corretas as motivações do nosso serviço apostólico? Aparece nele alguma motivação enfermiça?

Tradução: Padre Oswair Chiozini,cmf

Claret Contigo – 19 de outubro

Todos os dias uma meditação sobre as palavras do nosso Padre Fundador

19 de outubro de 2020

“Eu francamente lhe digo que já estou farto com oito anos de perseguições por causa deste Escorial. D. Dionísio, em cada carta, me diz que está aborrecido, que não pode mais levar tanta carga. Que faço eu? Algumas vezes pensei se não seria melhor sugerir e aconselhar S. M. que entregue o Escorial aos Franciscanos, ou aos Beneditinos ou aos Jesuítas, etc.” (Carta a D. Paladio Currius, 27 de julho de 1867, em EC II, p. 1183)

DISCERNINDO NA DOR

O mosteiro do Escorial havia sido vítima de sucessivas exclaustrações durante a primeira metade do século XIX. Depois da expulsão dos monges aconteceram saques e roubos. Isabel II lamentava a decadência do culto da basílica, assim como o abandono em que se encontravam partes do edifício ocupadas em outros tempos pela comunidade monástica e pelas atividades que atendia o seminário e o colégio.

Aproveitando um momento de relativa bonança política, durante o governo dos ‘moderados’, a Rainha encarregou o Padre Claret de dar vida àquela maravilha arquitetônica. Foi nomeado Presidente do Escorial no dia 5 de agosto de 1859. Imediatamente começou a estabelecer ali diversas instituições, atendendo a intenção fundacional do mosteiro e as necessidades da época. Em outubro já bem organizada, iniciou seu funcionamento uma Corporação de Capelães que dignificou o culto da basílica. Em 1860 criou um seminário interdiocesano de um nível intelectual e espiritual insólito para a época; e em 1861 fundou um colégio de segundo grau; finalmente em 1866 iniciou o colégio universitário.

Elementos antimonárquicos e anticlericais foram inimigos de tudo o que ia surgindo no Escorial. Claret foi acusado no Parlamento de investir mal os bens e fundos da Instituição e de que o colégio não estava de acordo com as leis vigentes, etc. Os ciúmes de alguma autoridade eclesiástica também lhe deram muito sofrimento. E, dentro de casa, não foi fácil para um grupo de sacerdotes seculares levarem vida quase monástica, para a qual não tinham vocação nem formação.

Claret, muito acostumado a sofrer perseguições e enfrentar dificuldades, sente que sua resistência tinha também limites. Mas não se decide por si mesmo deixar o cargo, mas consulta seu confessor, D. Paládio Currius; e não deseja abandonar as coisas simplesmente, pensa em possíveis soluções para que não se perca o bem que já se está fazendo. Em meio ao cansaço, Claret pratica a prudência e procura uma saída positiva.

Tradução: Padre Oswair Chiozini,cmf

Claret Contigo – 18 de outubro

Todos os dias uma meditação sobre as palavras do nosso Padre Fundador

18 de outubro de 2020

“Você deve olhar e imitar continuamente a humildade e a mansidão de Jesus; a humildade é o fundamento de todas as virtudes; e assim como um edifício alto sem fundamento cai, também cairá você se não for humilde” (“Carta ao missionário Teófilo”, em Sermões de Missão. Barcelona 1858, vol. I, p. 11).

TER OS SENTIMENTOS DE JESUS

Existe uma constante nos Evangelhos, sobretudo, em Marcos, que consiste em que, cada vez que Jesus faz um milagre ou entusiasma a multidão e esta o elogia, ele impõe silêncio e a despede. Em algum estudo sobre a psicologia de Jesus foi dito que este traço é sinal da sua saúde mental.

Claret teve muitos motivos para entregar-se à própria satisfação. Até nos momentos mais duros do seu ministério houve multidões que o aclamaram como herói. Em Canárias o povo o apertava tanto que as autoridades tiveram que protegê-lo com um quadrado de madeira; “Somente levei daí cinco rasgões que o povo fez em meu capote velho, pois se lançava por cima de mim quando ia de um povoado a outro” (Aut 486). Em sua passagem por Madri, antes da viagem para Cuba, foi obrigado a frequentar o meio aristocrático: “fico louco ao ter que receber e fazer visitas a pessoas de maior categoria” (EC I, p. 424); impuseram-lhe cruzes, medalhas e condecorações. E quando chegou e saiu daquela Ilha o fez no meio da multidão e saudado pelas máximas autoridades.

Chegando a Madri foi nomeado confessor real e lhe impuseram novas medalhas. Logo depois recomeçou com suas pregações com êxitos multitudinários: grupos de 4.000 e de até 6.000 pessoas no templo (EC I, p. 1441). Conseguiu melhorar a lei da educação e que se promulgassem decretos a favor da moralidade pública. Ganhou a alma de muitos Ministros; a Rainha o admirava até chegar ao supersticioso.

No meio de tudo isto, Claret manteve sempre o grande critério de imitar o mais literalmente possível a Jesus, também em sua humildade e em sua preferência pelos humildes. Ao ser nomeado confessor real, dizia confidencialmente a um amigo: “Deixem a mim a confissão dos pobres e boçais” (EC I, p. 1335). Uma testemunha da sua época na corte declarava: confessa todos os dias nas igrejas o povo mais pobre… Não negou o dom de Deus, mas “nas alturas” esteve sempre incômodo e se considerava “um burro carregado de joias” (AEC p. 688).

Tradução: Padre Oswair Chiozini,cmf

Claret Contigo – 17 de outubro

Todos os dias uma meditação sobre as palavras do nosso Padre Fundador

17 de outubro de 2020

“A santidade supõe duas coisas: limpeza de pecado e eminência na virtude. A fim de adquiri-la deve tomar por modelo Jesus Cristo, primeiro sacerdote e pontífice, meditando sobre sua vida e procurando tê-lo sempre presente nos pensamentos, nos sentimentos, nas palavras, nas obras e no padecer por seu amor” (Avisos a um sacerdote que acaba de fazer os exercícios de Santo Inácio. Vic 1844; p. 4).

CONFIGURADOS COM JESUS

Sábio comentário o de Claret. Podia ser de outro modo?

Com o passar dos anos fui descobrindo que muitas vezes não sei o que se deve fazer em uma determinada situação. Mas em quase todas estas encruzilhadas, inclusive nas mais complicadas, tenho muito claro que há uma série de ações e atitudes que são inadmissíveis. O que parece um beco sem saída começa a ter alguma solução: pelo menos sabemos que passos não devemos dar e que devemos evitar sempre; temos claro o que seria contraproducente.

Claret começa apontando o mínimo: a santidade é limpeza de pecado. Mas também, nos fala em sentido positivo, eminência da virtude. Há alguns dias me impressionava como um sacerdote insistia em sua homilia: “o problema não é o mal que fazemos, que fazemos bastante pouco, mas a quantidade de bem que deixamos de fazer”.

Não basta não manchar-se, só faltava! O importante é que a brancura brilhe. Também não se trata de evitar que nossa vida se manche, e que para isto fiquemos parados; não podemos contemplar tranquilos que o mundo arda diante de nós sem que nós mesmos movamos um dedo. Acho que os comentários de Jesus sobre quem guardava com muito medo seus talentos tem algo a ver com isto: viver e amar implica arriscar-se.

Se Claret tivesse vivido no século XXI e se tivesse alimentado da sua vida eclesial, nos convidaria a invocar constantemente o Espírito; somente Ele pode contagiar-nos com o sentir, o querer e o pensar de Jesus. Não deixemos de fazê-lo; Ele nos indicará o caminho para a eminência na virtude.

Tradução: Padre Oswair Chiozini,cmf

Claret Contigo – 16 de outubro

Todos os dias uma meditação sobre as palavras do nosso Padre Fundador

16 de outubro de 2020

“A oração é para o homem o que a alma é para o corpo e o que a água é para a terra (…) é a chave do céu (…) é para o homem o que as armas são para o soldado e assim como o soldado sem arma está perdido, assim também o cristão sem a arma santa da oração” (Diálogos sobre a oração, em T. DE VILLACASTÍN, Manual de Exercícios Espirituais. Barcelona 1864; p. 13).

A FÉ REQUER ALIMENTO

Estudos especializados dizem que Santo Antônio Maria Claret não foi um grande criador, mas teve um dom singular para selecionar, organizar e usar para produzir frutos o que outros criaram. Quem faz mais bem nem sempre é quem inventa, mas quem melhor sabe usar a serviço de todos.

As comparações que lemos em Claret talvez não estejam entre as páginas mais originais da literatura universal, mas transmitem o que o santo quer que entendamos: isto é, que não podemos viver sem oração.

Com o passar dos anos a experiência nos ensina que há substâncias de que nosso organismo precisa e cuja ausência, sem chamar especialmente a atenção, provoca alterações, enfermidades, preocupações. Basta estar mal que o médico detecta a falta de alguma vitamina, de ferro, de sódio, de potássio. Sua ausência nos foi minando silenciosamente, sem ruído, mas seus efeitos chegaram.

Algo assim acontece com a oração. Sua presença não é barulhenta, muitas vezes não é visível, mas sua ausência faz tocar o alarme. A terra não pode viver sem água, o ser humano também não; o soldado se sente perdido, como diz Claret, se está sem suas armas; nós não chegaremos muito longe sem oração. Cada um tem que ir encontrando os ritmos, as formas, o estilo, mas somente o encontro frequente, quase constante, com o Senhor alimenta realmente nossas vidas.

Você fala de oração ou se dedica a orar? Tem experiência dos efeitos da sua ausência em sua vida? Você se deixa levar ou busca momentos apropriados para orar?

Tradução: Padre Oswair Chiozini,cmf

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