Claret Contigo

Claret Contigo – 05 de outubro

Todos os dias uma meditação sobre as palavras do nosso Padre Fundador

05 de outubro de 2020

“Nas crianças somente temos o trabalho de plantar e nos adultos de arrancar e de plantar. Existe ainda outra vantagem, que com as crianças se conquistam os grandes e com os filhos os pais, porque os filhos são pedaços do coração dos pais. E, além disso, dando-lhes, como prêmio da sua assistência e aplicação, algum santinho, os pais e os adultos os leem em casa por curiosidade e não poucas vezes se convertem, como sei por experiência” (Aut 275)

ASTÚCIA PARA O BEM

Muitas vezes, a evangelização de hoje se perde em um bosque de análises, opções e prioridades. Claret compreendeu bem as palavras de Jesus: “dos que são como crianças é o reino dos céus” (Mc 10,14). Ele sabia que as crianças são como terra boa que acolhe a Palavra de Deus e também como evangelizadores dos adultos.

As experiências vividas nos primeiros anos da nossa infância nos marcam para sempre. Plantar a semente da fé em uma criança significa introduzir a pessoa na experiência da confiança radical, de sentir-se amada incondicionalmente por Deus. Esta “semente” irá frutificando ao longo de toda a vida. A criança é a terra boa que acolhe a semente da fé porque seu coração simples, livre de prejuízos, sintoniza-se espontaneamente com a fonte da vida. Claret nos convida a cuidar com esmero a transmissão da fé às crianças, sem deixar-nos levar pelo mito de que somente os adultos podem crer, como se a fé fosse “somente” uma mera opção entre outras e não, antes de tudo, uma experiência de graça que se recebe gratuitamente.

Por outra parte, uma criança que vive com alegria e simplicidade sua relação filial com Deus se converte em evangelizador de seus pais, não tanto através de suas palavras mas da confiança na vida que transmite. Neste ponto é também interessante a observação de Claret. Às vezes, o material catequético preparado para as crianças, como acontece também com as celebrações litúrgicas pensadas para elas, são, por sua simplicidade e frescura, os que mais chegam aos adultos, amiúde perdidos nas complicações da vida. Em uma cultura da desconfiança e da suspeita, a fé da criança nos ajuda a restaurar a confiança básica em Deus, sem a qual não se pode construir a vida nem acolher o dom da fé.

Tradução: Padre Oswair Chiozini,cmf.

Claret Contigo – 04 de outubro

Todos os dias uma meditação sobre as palavras do nosso Padre Fundador

04 de outubro de 2020 – São Francisco

“Quando alguém é pobre e o quer ser e é pobre de boa vontade e não forçadamente, então gosta da doçura da virtude da pobreza e, além disso, Deus dá uma força” (Aut 364).

A POBREZA QUE NÃO DÓI

Existe uma pobreza-virtude, pobreza escolhida e existe uma pobreza que é miséria forçada. A primeira humaniza e faz livre; a miséria forçada desumaniza, às vezes embrutece e até conduz à delinquência; à miséria econômica se associa facilmente à miséria cultural e moral.

A bem-aventurança da pobreza ocupa o primeiro lugar, tanto em Lc 6, 20ss como em Mt 5, 3ss. Mas não tem o mesmo sentido nem a mesma formulação em os ambos evangelistas. Em Lucas, provavelmente mais próximo ao pensamento de Jesus, se declaram bem-aventurados os pobres porque deixarão de sê-lo graças a uma pronta intervenção de Deus em seu favor; dá a entender que esta situação não é querida por Deus. Nesta linha, o arcebispo Claret, ao perceber a miséria em que viviam muitos sacerdotes em Cuba, interveio diante da Rainha e do Governo para que lhes fosse dado um salário digno: “para que (o clero) trabalhe como deve e dele se exige, é preciso que não tenha que mendigar ou reclamar sustento por meios pouco decorosos” (EC I, p. 517); sentia-se ferido pelo fato de que “às vezes o pobre padre se via obrigado a ir ao tugúrio do negro para comer com ele seu inhame e sua banana, para não perecer de miséria” (EC I, p. 608).

Em Mateus 5, 3 a expressão “pobres de espírito” não descreve uma situação sociológica, mas um desprendimento voluntário, opção que somente pode fazer quem é muito rico de espírito. São Paulo falava de sua indiferença diante da fartura ou da fome, indiferença de quem “tudo pode naquele que o conforta” (Fl 4, 13). Claret fará uma confissão muito semelhante: “Vós sois para mim suficientíssimo” (Aut 445). Quem tem esta peculiar riqueza pode definir-se como São Paulo e seus colaboradores: viviam “como quem nada tem, mas possuindo tudo” (2Cor 6, 10).

Tradução: Padre Oswair Chiozini,cmf

Claret Contigo – 03 de outubro

Todos os dias uma meditação sobre as palavras do nosso Padre Fundador

03 de outubro de 2020

“Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento é a nossa vida moral e física. Moral, que consiste em conhecer e amar e o objeto e alimento do entendimento é a verdade e Jesus Cristo é a mesma verdade essencial e o objeto e alimento da vontade é a bondade e Jesus Cristo é a bondade e caridade por essência” (Carta ascética… ao presidente de um dos coros da Academia de São Miguel. Barcelona 1862, p. 27).

JESUS DÁ CONHECIMENTO E AMOR

Se há alguma coisa que o ser humano deseja com ardor é a vida em plenitude e a verdade que conduz à liberdade de filhos de Deus. Os santos sabiam disto muito bem e corriam diretos à fonte da verdade e da vida. Este manancial se encontra escondido na Eucaristia, que é o sacramento do amor. A verdade e a vida são como dois trilhos pelos quais corre o trem da vida cristã. “Jesus Cristo, diz Claret, é a bondade e a caridade por excelência”.
Se quisermos que nosso entendimento se alimente da sabedoria do Evangelho e que nosso amor a Deus e aos irmãos receba seu calor na chama viva do Espírito, o que também acontece na comunhão eucarística, sejamos nós constantes em receber este sacramento, riqueza onde sobra graça, que tudo limpa, sara e vivifica.
Conhecemos profundamente a Deus se o amamos; e o amamos na medida em que o conhecemos. Este conhecimento vital se dá no contato com Ele, na pessoa de Jesus, o Deus acessível pela sua encarnação e proximidade, ao ter partilhado nossa condição humana. Este contato se faz sublime na comunhão, onde os vínculos de amor entre Jesus e nós se fazem fortes e eternos já aqui da nossa vida, em nossos limitados anos, mas com perfil de eternidade.
Quão belas e profundas são estas palavras de Claret, nascidas da sua experiência pessoal: “Jesus Cristo é a mesma verdade essencial e o objeto e alimento da vontade é a bondade e Jesus Cristo é a bondade e a caridade por excelência”. Releia e medite este texto. Se você aplicar à sua vida, certamente lhe fará muito bem.

Tradução: Padre Oswair Chiozini,cmf

Claret Contigo – 02 de outubro

Todos os dias uma meditação sobre as palavras do nosso Padre Fundador

02 de outubro de 2020

“A sociedade está desfalecida e faminta desde que não recebe o pão cotidiano da Palavra de Deus. Todo propósito de salvação será estéril se não se restaura em sua plenitude a grande palavra católica” (Aut 450)

O PÃO DA PALAVRA

Este parágrafo é de J. Donoso Cortés, e Claret se apropriou dele em uma época em que na Espanha, devido à supressão das Ordens religiosas pelo poder civil, pouca pregação havia. Os sacerdotes se preparavam no seminário para funções litúrgicas e ao governo paroquial, mas pouco se preparavam para pregar. Claret percebeu como poucos esta grande carência e se lançou a remediá-la. Depois de quatro anos de trabalho em paróquia (1835-1839), ao apresentar-se no noviciado romano dos jesuítas, definiu-se a si mesmo como muito inclinado a confessar e a exortar o povo, “tanto que nestes exercícios, diz, sou infatigável” (AEC, p. 528).
Meses depois, em suas correrias como pregador popular pela Catalunha, não se conformará em fazer isto sozinho, mas associará outros a este ministério, dando origem a diversos grupos de pregadores, até desembocar na Congregação Claretiana como grupo estável. E não se limitará a difundir a palavra de forma oral, mas editará livrinhos catequético-pedagógicos e terminará fundando uma Editora, a “Livraria Religiosa”, que em poucos anos inundou a Espanha de folhetos, folhas soltas e livrinhos de espiritualidade.
Os meios de comunicação têm hoje um imenso poder. Os políticos sabem disso muito bem, pois, quando podem, apoiam um jornal e tentam afundar os outros. Nós, os crentes, deveríamos lançar-nos sobre os meios de comunicação de qualidade, que substituam os pseudo-informativos. Um anarquista do século XIX se lamentava não ter publicado algo tão fabuloso como o Caminho Reto de Claret. Faz falta hoje Claret, na imprensa, televisão, internet… que, com palavra limpa, saciasse tanta fome e ânsia de alimento saudável.

Tradução: Padre Oswair Chiozini,cmf

Claret Contigo – 01 de outubro

Todos os dias uma meditação sobre as palavras do nosso Padre Fundador

01 de outubro de 2020

“A palavra tem sido, é e sempre será, a rainha do mundo” (Aut 449).

A PALAVRA, RAINHA DO MUNDO

Quando São Paulo se despede definitivamente dos presbíteros de Éfeso, indica-lhes seus deveres como “responsáveis pelo rebanho de Deus”, recordando-lhes a fidelidade com ele tentou cumprir sua própria missão de Apóstolo e pensa continuar cumprindo: “A mim não me importa a vida, contanto que leve adiante o ministério que recebi do Senhor Jesus…” (At 20, 24). Num momento delicado da sua vida, o Padre Claret teve que fazer um sério discernimento sobre continuar expondo-se a determinadas perseguições ou não; ao colocar por escrito sua reflexão, diz, como Paulo, que não lhe importa tanto sua vida quanto o levar adiante o ministério da Palavra recebido do Senhor Jesus (cf. EC III, p. 504).
Claret nasceu para pregar. Um biógrafo moderno deu um título à vida de Claret ‘Não posso calar’. Era feliz pelo fato de pregar em um dia até dez ou doze vezes. Quando se vê obrigado a participar de algum banquete oficial, deseja que aquilo se acabe logo “para correr ao púlpito”, pois esta é sua “comida mais saborosa” (EC II, p. 351).
Segundo o livro do Gênesis, quando o homem punha nome aos animais, tomava posse deles. O filósofo Heidegger diz que, mediante a linguagem, o homem se faz dono do mundo. E a carta de Tiago afirma a imensa energia da palavra, que pode dar vida e assassinar: “com a língua bendizemos a Deus e Pai e com ela amaldiçoamos aos homens” (Tg 3,9). Devemos perguntar-nos com frequência sobre o uso que fazemos desta formidável faculdade que o Criador colocou em nós. Claret foi um mago da palavra; pregava sermões de até uma hora de duração e mantinha o auditório atento. Com sua palavra glorificava a Deus e oferecia caminhos de vida aos irmãos. Boa pista para nós!

Tradução: Padre Oswair Chiozini,cmf

Claret Contigo – 30 de setembro

Todos os dias uma meditação sobre as palavras do nosso Padre Fundador

30 de setembro de 2020

“O fazer e o sofrer são as grandes provas do amor” (Aut 424).

AS GRANDES PROVAS DO AMOR

Em uma mensagem solene a seus missionários, o Padre Claret lhes diz que devem arder em caridade; por isso não pensarão senão em “como imitar Jesus Cristo em trabalhar e sofrer” (Aut 494). Nestas palavras define o que foi sua própria vida: um contínuo “entregar-se”. Um poeta espanhol do século XIX, que se fez muito popular, diz sobre seus conterrâneos: “ensinaram-me a rezar, ensinaram-me a sofrer, e me ensinaram a amar; e, como amar é sofrer, também aprendi a chorar” (J.M. Gabriel y Galán). E outro mais recente escreveu: “Chegou com três feridas: a da morte, a do amor e a da vida” (Miguel Hernández).

O amor humano é simultaneamente fonte de alegria e de dor; diz-se que existem “amores que matam”. A dor se deve às vezes à ausência da pessoa a quem se ama; em outros casos procede da percepção de suas desgraças. Claret teve um olhar muito profundo para perceber o que não dignificava a vida de seus irmãos. Sobretudo, observou que muitos não desfrutavam sua categoria de filhos de Deus, mas até a rejeitavam, ou, outras pessoas não respeitavam esta sua dignidade.

A resposta a tais situações foram a pregação, os escritos e as obras sociais, além da prática habitual da esmola. A dedicação a estas tarefas, em si mesma sacrificada, se converte em pesada cruz quando, em lugar de reconhecimento, suscita perseguição contra quem a protagoniza. Este foi o caso de Claret e de outros muitos santos.

“Ao entardecer da vida nos examinarão sobre o amor”, diz São João da Cruz. Que não fique para a última tarde; em cada entardecer devemos nos examinar sobre quanto tenhamos amado, que talvez equivalha a quanto tenhamos sofrido.

Tradução: Padre Oswair Chiozini,cmf

Claret Contigo – 29 de setembro

Todos os dias uma meditação sobre as palavras do nosso Padre Fundador

29 de setembro de 2020

“Eu vi que esta é uma época em que o egoísmo tem feito esquecer os deveres mais sagrados que o homem tem para com seu próximo e irmão, já que todos somos imagens de Deus, filhos de Deus, redimidos com o sangue de Jesus Cristo e destinados para o céu” (Aut 358).

ALTERNATIVA AO EGOÍSMO

Claret descreve aqui sua opção pessoal de pobreza em sua etapa de missionário popular pela Catalunha. O egoísmo a que se refere é, portanto, a busca de riquezas, a cobiça desenfreada. Diante desta degradação do ser humano que se faz escravo das coisas em vez de senhor delas, ele apresenta sua liberdade pessoal; era tão livre que não tinha necessidades. Por isso não fazia uso de dinheiro, até o ponto de assustar-se diante da possibilidade de ter encontrado uma moeda no bolso; quando colocou em andamento a Editora ou empreendeu outras atividades sociais, sua pobreza adquiriu outras características. Sua preocupação consistia em imitar o Jesus do Evangelho tão literalmente, e do melhor modo possível, de tal modo que ninguém pudesse interpretar seu trabalho apostólico como um meio de enriquecer-se.

Mas, ao descrevê-lo à distância, existe uma preocupação social: a busca de riquezas leva consigo, frequentemente, a exploração do próximo. O conhecido personagem cômico “Mafalda” pergunta em certa ocasião a seu pai “como é possível acumular uma fortuna sem fazer farinha dos demais”. Sem dúvida, Claret sabe disto. Ele conheceu já em sua infância e na própria família, a industrialização incipiente. Em seus anos de Cuba (1851-1857), conheceu de perto a escravidão e a exploração dos pobres, sobretudo, dos negros pelos brancos. Falando dos europeus que faziam negócios na ilha, escreveu dizendo que “não apreciam outro Deus senão o interesse” (EC, I, p. 705).

Diante de tais abusos, Claret não se apresenta como um sindicalista agitador, mas como um crente cheio de caridade: “Ó meu irmão, eu amo você, eu quero o seu bem. Em prova do amor que tenho por você farei todos os sacrifícios e trabalhos, aceitarei até a morte se for preciso”. (Aut 448).

Tradução: Padre Oswair Chiozini,cmf

Claret Contigo – 28 de setembro

Todos os dias uma meditação sobre as palavras do nosso Padre Fundador

28 de setembro de 2020

“Naqueles tempos tão calamitosos, não só tinha que proceder com tanta cautela, mas ainda não podíamos dar o nome de missão às nossas funções, por isso dizíamos: Novena para as almas, da Virgem do Rosário, do Santíssimo Sacramento, de tal Santo, para não alarmar os constitucionalistas” (Aut 292).

PRUDENTES E SIMPLES

No Evangelho encontramos este parágrafo que é muito sugestivo: “Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, pois, prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas. Cuidai-vos dos homens. Eles vos levarão aos seus tribunais e açoitar-vos-ão com varas nas suas sinagogas. Sereis por minha causa levados diante dos governadores e dos reis: servireis assim de testemunho para eles e para os pagãos. Quando fordes presos, não vos preocupeis nem pela maneira com que haveis de falar, nem pelo que haveis de dizer: naquele momento ser-vos-á inspirado o que haveis de dizer. Porque não sereis vós que falareis, mas é o Espírito de vosso Pai que falará em vós” (Mt 10,16-20).

Em muitas ocasiões nós nos encontramos diante de pessoas ou grupos que se mostram totalmente desinteressadas com o anúncio cristão, ou nem sequer respeitam o menor sinal religioso. Devemos aspirar em primeiro lugar à liberdade. Cremos na construção de uma sociedade em que se respeitem os direitos e um deles é o da liberdade a manifestar a própria crença. E o anúncio da fé cristã em nossas atitudes pessoais e em algumas atividades específicas não deve ser visto como ataque ao direito de outros a fazerem o mesmo com suas crenças.

Nossa vida de crente deve ser antes de tudo uma proposta, porque a fé não se demonstra, mas se mostra. Ao ser vista em atitudes, gestos e palavras, outros se perguntem: o que leva estas pessoas a viverem desta maneira? Portanto, a astúcia de que fala o Evangelho não é uma atitude de fingimento, mas de saber ser oportuno no modo de praticar a fé e anunciá-la. Não procuramos captar adeptos como fazem as seitas, mas, convencidos daquilo que nos plenifica, queremos viver de modo intenso que contagie a outros.

Qual é o grau de vitalidade de minha fé? Tenho experimentado em alguma ocasião que meu entusiasmo de crente tenha despertado questionamentos em quem se aproxima de mim?

Tradução: Padre Oswair Chiozini,cmf

Claret Contigo – 27 de setembro

Todos os dias uma meditação sobre as palavras do nosso Padre Fundador

27 de setembro de 2020

“Às vezes somos perseguidos e caluniados por causa de coisas que não fizemos; mas temos outras culpas e Deus nos perdoa e assim louvamos a Deus com a inocência e a paciência e satisfazemos nossas culpas ocultas e passadas” (Propósitos do ano 1858, em AEC p. 685).

O TESTEMUNHO, MELHOR QUE A CRÍTICA

Ninguém está livre de pecado ou é tão inocente que possa lançar pedras nos outros (cf. Jo 8,1-11). Na cena evangélica da adúltera, o único justo e inocente é aquele que jamais arremessará uma pedra contra outra pessoa. O comportamento de Jesus consiste em mostrar, com a própria vida, o caminho certo para a conversão e a mudança e motivar os demais a fazerem o mesmo.

A crítica ou a calúnia criam muros ou divisões entre as pessoas. E o evangelizador é, sobretudo, um construtor de pontes e de laços de comunhão entre os homens e mulheres e com Deus. Claret se propôs não queixar-se nem defender-se em caso de ser acusado ou caluniado (cf. Aut 422). Provavelmente o motivo de fundo era considerar que nada deveria ser motivo para desviá-lo da sua vocação e missão: ajudar as pessoas a encontrarem-se entre si e com Jesus Cristo. Se dedicasse seu tempo a defender-se, correria o risco de deixar o anúncio em um segundo plano. E, por outra parte, sua profunda humildade o levava a não fazer alarde da sua virtude.

Talvez aqui esteja o núcleo da questão: se a vocação mais importante de todo cristão é dar testemunho de Jesus Cristo, devemos estar conscientes da necessidade de que o próprio ‘eu’ não apareça em primeiro plano, nem seja nossa primeira preocupação. Vistas assim as coisas, será mais fácil aceitar as críticas ou inclusive calúnias que poderão nos ter como objetivo. Sempre nos será proveitosa a consciência que tinha João Batista, a de que sua pessoa deveria passar a um segundo plano para que Jesus ocupasse o centro: “que Ele cresça e eu desapareça” (Jo 3,30).

O que é que procuro em primeiro lugar em minhas atividades: fazer valer minhas razões ou virtudes ou que Deus seja conhecido, amado e servido? Tenho capacidade para superar as pequenas ou grandes críticas injustas que me dirijam e continuar com alegria minha vocação cristã?

Tradução: Padre Oswair Chiozini,cmf

Claret Contigo – 26 de setembro

Todos os dias uma meditação sobre as palavras do nosso Padre Fundador

26 de setembro de 2020

“Talvez alguém possa estranhar que eu me intrometa a falar de Agricultura e dirá: o que vem fazer este bispo preocupando-se com estas coisas quando seu campo é a Sagrada Teologia, Direito Canônico e moral cristã? Não tem dúvidas que esta é minha principal obrigação; mas não acho fora de razão ocupar-me da propagação e aperfeiçoamento da agricultura, já que influi grandemente na melhoria dos costumes, que é minha principal missão, já que também traz abundância e felicidade aos homens, a que estou obrigado a procurar-lhes quanto possa a quem tanto amo” (Reflexões sobre a Agricultura, em StClar 10 (1992) 144 e em EP BAC, Madrid, 1998, pp. 293-294).

EVANGELIZAÇÃO INTEGRAL

Este texto retrata as diversas faces da personalidade do Padre Claret, que não só foi pregador, escritor, administrador de sacramentos e curador, mas também perito em agricultura; isto nos ensina até onde chegava sua flexibilidade e sua entrega poliédrica para cooperar com o bem dos demais. Teve um talento especial para compreender as necessidades do povo e para buscar a resposta adequada.

Claret não aprendeu agricultura na casa paterna, já que sua família vivia da fabricação têxtil. Mas em Cuba teve que ampliar conhecimentos, precisamente para acudir aquela gente, maioritariamente camponesa. Possivelmente pensou que aquilo era o apostolado mais urgente e oportuno naquele momento, pois sabia muito bem que é difícil oferecer ideias e critérios religiosos a estômagos vazios.

Certo que não é comum um bispo escrever sobre assuntos agrícolas. Mas desde muitos contextos missionários podemos entender facilmente: há lugares em que o missionário faz de tudo; toca-lhe fazer de carteiro, enfermeiro, banqueiro, advogado, especialmente onde a organização sociopolítica não chega lá. Claro que não está preparado para tudo isso; Claret também não estava; mas empenhou-se em se preparar.

Felizmente já sabemos que a salvação não é a mera salvação das almas, como se dizia no tempo de Claret, embora ele tenha usado esta linguagem. A evangelização tem como objetivo a realização do plano de Deus, a glória de Deus, que consiste em que o homem viva, como disse Santo Irineu. E isto não é assunto intimista.

Somente o amor permite esta aproximação ‘encarnada’, esta comunhão com as alegrias e as esperanças dos destinatários da evangelização. Somente o amor fará com que o missionário não seja um burocrata acomodado em um status superior.

Que sensibilidade social e evangelizadora temos nós, você e eu? Precisamos aumentá-la ou corrigi-la?

Tradução: Padre Oswair Chiozini,cmf