Meditações Pascais – 24 de abril

Ele está no meio de nós

Padre Valter Maurício Goedert

ONDE VAMOS COMPRAR PÃO? (Jo 6,5)

Não é necessário analisar as estatísticas sobre a fome para medir o alcance dessa tragédia. Ainda mais dramático é saber que existe alimento suficiente para saciar a multidão de famintos. Por que, então, milhares de pessoas continuam morrendo de fome?

Em todos os tempos houve fome na terra. A pergunta “onde encontrar comida para tanta gente” (Jo 6,5), fez parte das preocupações dos apóstolos e ainda hoje continua presente nas estratégias político-sociais de todos os países. Como Jesus, também os responsáveis pelas decisões sabem que passos devem ser dados. Lamentavelmente, nem sempre se tomam as atitudes pertinentes. Sem minimizar o caráter extraordinário da multiplicação dos pães, podemos tirar algumas lições importantes desse acontecimento.

No evangelho de Mateus, Jesus convoca os discípulos a participar da solução: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16). A fome, a miséria e a pobreza são problemas que atingem a todos. Cada um tem sua responsabilidade. Não se pode esperar intervenção divina, de braços cruzados! Todos devemos sair em busca de soluções, ainda que seja para descobrir que temos apenas cinco pães e dois peixes (Jo 6,9). Nossa contribuição será sempre significativa para Deus. Ele não espera de nós soluções que ultrapassem a capacidade humana. Deseja a colaboração que cada um pode prestar. O extraordinário, ele sempre o fará.

Além da participação na busca de soluções, podemos ajudar na organização: “Fazei sentar as pessoas” (Jo 6,10). A miséria nem sempre é fruto da insensibilidade; freqüentemente é resultado da falta de organização, da distribuição inadequada dos bens. O Espírito Santo toca os corações, levando-os a partilhar com os menos favorecidos. No entanto, também a moção do Espírito pode passar, não poucas vezes, pelo incentivo, pela palavra, pelo testemunho de fraternidade. As ofertas humanas, abençoadas por Jesus, fazem o milagre de a partilha acontecer. Por força divina se multiplicam e a todos saciam. Como naquela oportunidade, também hoje Jesus faz questão de contar com o que temos, ainda que sejam apenas cinco pães e dois peixes!

Depois de saciados os famintos, resta-nos ainda uma tarefa: recolher as sobras (Jo 6,13). De fato, não se deve menosprezar o dom de Deus! É necessário recolher o que sobrou; outros dele precisarão. O desperdício não é menos grave que a falta de alimento. A reciclagem das sobras não é apenas questão ecológica: é imperativo ético!

O ensinamento da multiplicação dos pães deve orientar, ainda hoje, as relações entre os meios de produção e o consumo. Enquanto essas relações estiverem subordinadas às leis do capital, da oferta e da procura, teremos alimentos, e continuaremos a ter multidões de famintos. A única lei capaz de mudar essa situação é a lei do amor, da partilha, da solidariedade.

É preciso superar a polaridade “produtor-consumidor” pela dialética do amor fraterno. Só então seremos capazes de avaliar o absurdo de, numa mesma convivência social, uns terem em excesso, enquanto outros, sentados à mesma mesa humana, passam necessidade. Quem se sente bem em viver numa comunidade humana tão desajustada, onde a opulência de alguns poucos afronta a maioria empobrecida?

Os problemas sociais da humanidade não se resolvem somente com projetos e propósitos políticos. Enfim, quando tivermos desenvolvido todos os esforços, precisaremos dizer: “somos servos como os outros; fizemos o que devíamos fazer” (Lc 17,10). Mas é exatamente no momento em que percebemos nossas limitações que Deus entra em cena para transformar nossa pobre oferta em ações concretas de solidariedade. Nosso “pouco” será suficiente, e até sobrará, desde que seja nosso “tudo”. O milagre do amor uma vez mais acontecerá. A multidão será saciada!

NA MESA SAGRADA

“Na mesa sagrada se faz unidade,
no pão que alimenta, que é o pão do Senhor,
formamos família na fraternidade,
não há diferença de raça e de cor.

Chegar junto à mesa é comprometer-se,
é a Deus converter-se com sinceridade.
O grito dos fracos devemos ouvir,
e em nome de Cristo amar e servir.

Enquanto na terra o pão for partido,
o homem nutrido se transformará;
vivendo a esperança num mundo melhor,
com Cristo lutando, o amor vencerá.

Se participamos da eucaristia,
é grande a alegria que Deus oferece;
porém, não podemos deixar esquecida
a dor desta vida que o pobre padece.

Assim comungando na única vida,
a morte vencida será nossa sorte.
Se unidos buscamos a libertação,
teremos com Cristo a ressurreição.”

Livro: Padre Valter Maurício Goedert – Ele está no meio de nós – Meditações Pascais.

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