Meditações Pascais – 20 de abril

Ele está no meio de nós

Padre Valter Maurício Goedert

Segunda-feira | 20 de abril de 2020

JESUS RESSUSCITADO (Lc 24,36-49)

As aparições de Jesus ressuscitado foram marcadas por uma tríplice revelação: por palavras, por contatos, e por refeições. Jesus se revelou à inteligência, ao afeto, à convivialidade.

Primeiramente, Jesus anuncia aos discípulos sua ressurreição, transmitindo o fruto primordial dessa vida nova: a paz. “Falavam ainda, quando ele próprio se apresentou no meio deles e disse: a paz esteja convosco” (Lc 24,36). A escuta e o acolhimento da palavra de Deus constituem elementos essenciais para a descoberta do Ressuscitado. A palavra de Deus não é uma expressão verbal qualquer, desvinculada do processo da história da salvação. Há uma relação fundamental entre a palavra profética do Antigo Testamento e a palavra de Jesus, que realiza e dá sentido a todas as profecias.

A acolhida da palavra é indispensável para que se possam compreender os gestos e as atitudes de Jesus. Somente aquele que tem palavras de vida eterna pode revelar o eterno. Cristo é, ao mesmo tempo, Deus que revela e Deus revelado. Em Cristo, o plano de Deus alcança a totalidade da Palavra reveladora, que tudo renova, tudo recria. Jesus Cristo não é uma simples palavra que anuncia uma idéia, um conceito. Cristo ressuscitado, Palavra eterna do Pai, tudo transforma, tudo torna novo. Cristo ressuscitado, esperança da glória (Rm 5,2).

Em segundo lugar, os contatos de Jesus foram, todos eles, salvíficos, reveladores de sua divindade: “Vede minhas mãos e meus pés: sou eu! Apalpai-me e entendei que um espírito não tem carne, nem osso, como estais vendo que eu tenho” (Lc 24,39). Tocar as feridas no corpo de Jesus é um convite a sentir nossas próprias feridas, a perceber que podemos nos tornar testemunhas da ressurreição, quando tivermos sido curados pelo Ressuscitado. Se Jesus nos convida a participar dos seus sofrimentos, também nos fará participar de sua glória.

Esses encontros com Jesus ressuscitado, no entanto, não são acontecimentos do passado, gratas recordações, mera contemplação intimista. Podem ocorrer ainda hoje, quando nos encontramos reunidos em seu nome, quando acolhemos o irmão que sofre, ouvimos e meditamos sua palavra, acatamos a orientação de sua Igreja, celebramos os sacramentos. Podemos tocar nas chagas do Ressuscitado ao curar as feridas provocadas nas pessoas pelo desrespeito aos direitos humanos, pelas injustiças sociais, pelo abandono de crianças, pela criminalidade, pela droga… Devolver a dignidade humana é transmitir vida plena, curando as feridas humanas nas chagas redentoras de Jesus.

Em terceiro lugar, o contato com Jesus ressuscitado termina sempre em festa, banquete, celebração, alegria. “E como, por causa da alegria, não podiam acreditar ainda e permaneciam surpresos, disse-lhes: Tendes algo que comer?” (Jo 24,41). Só pode prometer vida em plenitude aquele que é o Senhor da vida.

Jesus multiplica os pães e torna-se alimento (Jo 6,54). Dele se alimentam todos, pequenos e grandes, pobres e ricos, santos e pecadores. Pão dos anjos que se fez pão dos homens. Pão da unidade e da caridade. Une em torno da mesa seus filhos, sustenta os fracos, revigora os abatidos, dá novo ânimo a quem já não tem mais esperança. Maná divino, que fortalece na jornada em busca do novo céu e da nova terra, da cidade santa, a Jerusalém celeste, tabernáculo de Deus com os homens (Ap 21,1-3). Cantaremos, então, o cântico novo, felizes por termos sido convidados para as núpcias do Cordeiro (Ap 19,9).

LOUVA, Ó SIÃO!

Eis o pão que os anjos comem
transformado em pão do homem;
só os filhos o consomem:
não será lançado aos cães!

Em sinais prefigurado,
por Abraão foi imolado,
no cordeiro aos pais foi dado,
no deserto foi maná…

Bom Pastor, pão de verdade,
piedade, ó Jesus, piedade,
conservai-nos na unidade,
extingui nossa orfandade,
transportai-nos para o Pai!

Aos mortais, dando comida,
dais também o pão da vida;
que a família assim nutrida
seja um dia reunida
aos convivas lá do céu!

Tomás de Aquino

Livro: Padre Valter Maurício Goedert – Ele está no meio de nós – Meditações Pascais

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