Meditações Pascais – 17 de maio

Ele está no meio de nós

Padre Valter Maurício Goedert

Domingo | 17 de maio de 2020

RENOVAI A FACE DA TERRA! (Sl 104)

As realidades deste mundo sofrem inevitável envelhecimento. Por mais que a ciência evolua, visando a prolongar a expectativa de vida sobre a terra, curando doenças, combatendo a miséria e a fome, recuperando os danos causados à natureza, proporcionando mais e melhores anos às pessoas, a vida, aqui na terra, não é definitiva, embora nos devamos empenhar para que seja cada dia melhor.

As pessoas e as coisas morrem porque perdem a capacidade de se renovar. Renovação constitui o princípio fundamental da vida. Uma lei inexorável. O respeito ao passado não significa saudosismo. A verdadeira tradição é dinâmica. Fidelidade à tradição exige empenho pelo novo. Sobre os alicerces do passado se constroem o presente e o futuro.

De fato, sentimo-nos, por vezes, acuados pelo medo, ansiosos, inseguros. João Paulo II constata essa inquietação quando afirma em sua Carta Apostólica “O Redentor do homem”: “O homem de hoje parece estar sempre ameaçado por aquilo mesmo que produz; ou seja, pelo resultado do trabalho de suas mãos e, ainda mais, pelo resultado do trabalho de sua inteligência e das tendências de sua vontade” (n. 15).

Mais do que em qualquer outra época o homem está em busca de si mesmo, de sua verdadeira imagem, de sua origem. Precisa de renovação interior que o oriente para o sentido último de sua existência sobre a terra.

É preciso descobrir a eterna novidade que fundamenta o passado, anima o presente e projeta o futuro. Jesus ressuscitado faz novas todas as coisas. Ele, Princípio e Fim, Alfa e Ômega, por sua paixão, morte e ressurreição inaugura o novo céu e a nova terra, enxuga toda lágrima, vence a morte, põe fim ao luto, ao clamor e à dor. Através e a partir da ressurreição de Jesus, as coisas antigas já se foram (Ap 21,4-5). Jesus Cristo é o homem novo que convida a humanidade redimida a participar de sua vida divina. À sua imagem e semelhança o Pai nos criou, pois ele é “a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda criatura, porque nele foram criadas todas as coisas” (Cl 1,15-16).

É preciso olhar para Jesus, o homem novo, contemplar seu rosto doloroso, e nele encontrar sentido para nossos sofrimentos. Compreender que nossas mazelas humanas já foram redimidas pela sua cruz. No entanto, perceber também que nossas vitórias fazem parte de sua glorificação. No rosto de Jesus vamos desvendar o mistério do verdadeiro rosto humano querido por Deus. Compreender, enfim, que Deus, pela ação do seu Espírito, permanentemente torna novas todas as coisas.

O Espírito Santo recria tudo, renova a face da terra. De homens velhos, corrompidos pelo pecado, nos transforma em novas criaturas. Substitui o vinho velho pelo novo vinho.

Dom de Deus, o Espírito Santo enviado pelo Pai é o fruto mais precioso do Mistério Pascal. “Ao dar o Filho, no dom do Filho, afirma o Papa João Paulo II, já se exprime a essência mais profunda de Deus, o qual, sendo amor, é a fonte inexaurível da dádiva. No dom concedido pelo Filho completam-se a revelação e a dádiva do Amor eterno: o Espírito Santo, que nas profundezas imperscrutáveis da divindade é uma Pessoa-Dom. Por obra do Filho, mediante o Mistério Pascal de Cristo, é dado de uma maneira nova aos Apóstolos e à Igreja e, por intermédio deles, à humanidade e ao mundo inteiro” (Carta Encíclica “Dominum et vivificantem”, 23).

Também as frágeis estruturas familiares estão exigindo o sopro renovador do Espírito. Todos percebemos as enormes dificuldades pelas quais passam as famílias. João Paulo II enumera algumas: “as graves ambigüidades acerca da relação de autoridade entre pais e filhos; as dificuldades concretas na transmissão dos valores; o número crescente dos divórcios; a praga do aborto; o recurso cada vez mais freqüente à esterilização; a instauração de uma verdadeira e própria mentalidade contraceptiva.” (“Missão da família cristã no mundo de hoje”, n. 6).

Enfim, a sociedade neocapitalista está a pedir reformas estruturais urgentes, a fim de recuperar o apreço pelos direitos humanos, em todas as dimensões, e o respeito pela natureza. Lutamos contra o subdesenvolvimento não apenas econômico, mas também cultural, político e social. Para construir a civilização do amor não basta o esforço humano; temos necessidade do fogo do Espírito Santo, que tudo purifica e transforma.

O Espírito Santo renova a Igreja, fazendo-a voltar à fonte da graça, às suas origens, para redescobrir sua identidade. Não se vive sem raízes, mas também não se pode permanecer nelas. Com a força do Espírito a Igreja cresce, produz frutos, os frutos do Espírito. Quem se alimenta do novo maná e do vinho novo na eucaristia, obra do Espírito Santo, não pode se apegar ao que já envelheceu. Cristo ressuscitado, ontem, hoje e sempre, é fonte de rejuvenescimento. O Espírito renova a face da terra a partir de corações renovados. O amor é sempre novo!

ENVIA TEU ESPÍRITO, SENHOR!

Para consolar as almas aflitas.
Para animar os jovens em suas lutas.
Para pregar tua palavra de vida.
Para perdoar em teu nome os pecados.
Para defender a justiça.
Para apoiar a verdade.
Para levar com alegria a cruz.
Para dar a comer o teu Corpo.
Para evangelizar os pobres.
Para elevar e transformar o mundo.
Para ser sal da terra.
Para oferecer a vida pelo teu Reino.
Para te seguir sempre.
Para ser testemunha da paz.

Livro: Padre Valter Maurício Goedert – Ele está no meio de nós – Meditações Pascais

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