Meditações Pascais – 15 de maio

Ele está no meio de nós

Padre Valter Maurício Goedert

Sexta-feira | 15 de maio de 2020

TOMOU O PÃO, DEU GRAÇAS! (Lc 22,19)

Celebrar a Páscoa (celebrar a Eucaristia) é, em primeiro lugar, dar graças pelas maravilhas da criação. O Grande Hallel (Sl 136) não se cansa de fazê-lo:

“Celebrai a Jahweh, porque ele é bom,
porque o seu amor é para sempre!
Celebrai o Deus dos deuses,
porque o seu amor é para sempre!
Celebrai o Senhor dos senhores,
porque o seu amor é para sempre!”.

Esse vínculo entre Páscoa e criação é simbolizado também pelas leituras bíblicas da Vigília Pascal, herança da liturgia sinagogal. Páscoa é a festa da luz eterna! Somos cristificados na Páscoa de Cristo, transfigurados pela glória do Ressuscitado. Celebrar a eucaristia significa, pois, anunciar o novo céu e a nova terra inaugurados pela ressurreição. Jesus, o primogênito dentre os mortos, inicia esse louvor cósmico. A criação torna-se eucaristia: o pão e o vinho tornam-se louvor da glória, o fruto do trabalho dos homens torna-se Cristo. Nascida no coração de Deus, a criação, transubstanciada na eucaristia, retorna ao coração de Deus, para ser ali eternamente louvor e glória de sua graça (Ef 1,6).

A tradição judaica coloca o sacrifício de Isaac em relação direta com a Páscoa. O Livro dos Jubileus, um apócrifo do século I antes de Cristo, afirma que Isaac foi oferecido em 14 de Nisã à mesma hora em que mais tarde se imolaria o cordeiro pascal, e a montanha do holocausto foi precisamente a montanha de Sião. “Fazei isto” em memória é dar graças pela fé de Abraão que fundou o povo da Aliança, pela obediência de seu amor no sacrifício de seu filho, pela aceitação heróica de Isaac da vontade de Deus a seu respeito. Em Jesus, o Pai se recorda “de sua misericórdia, como prometera a Abraão e à sua descendência para sempre” (Lc 1,54-55). Abraão e Isaac são figuras da plenitude do amor de Deus pelo mundo, em Cristo.

O Êxodo é o coração dessa história. No deserto do Sinai, Deus põe a mesa para seus filhos e os alimenta com a flor do trigo e com o mel da rocha (Sl 80,17). No deserto, Jahweh revela seu nome, age com ternura e piedade (Ex 34,6), adota Israel como filho primogênito. Jesus, o mediador da Nova e Eterna Aliança, põe sua mesa, nos alimenta com seu Corpo e seu Sangue, revela plenamente o Pai, derrama com piedade seu Sangue, dá sua vida pela remissão dos pecados e nos torna filhos adotivos pelo dom de sua graça. A Páscoa judaica celebra o êxodo de Israel; a Páscoa cristã celebra o êxodo de Cristo. A eucaristia é simultaneamente o memorial de ambos.

A ação de graças inclui, ainda, o memorial do fim dos tempos. Com esse fervor eram pronunciadas as preces do Hallel. A Páscoa é a festa mais rica de esperança escatológica e messiânica. Jesus afirma que não comerá mais a Páscoa até que ela se cumpra no Reino de Deus (Lc 22,16). A eucaristia constitui o anúncio permanente e a antecipação simbólica da consumação do reino, da festa eterna, das núpcias do Cordeiro (Ap 19,7): “Anunciamos, Senhor, a tua morte, e proclamamos tua ressurreição, enquanto esperamos tua vinda”!

AÇÃO DE GRAÇAS

Senhor, Deus da paz,
tu que criaste os homens
para serem herdeiros de tua glória,
nós te bendizemos e agradecemos
porque nos enviaste Jesus,
teu Filho bem-amado.
Tu fizeste dele,
no mistério de sua Páscoa,
o realizador de nossa salvação,
a fonte de toda a paz,
o laço de toda fraternidade.
Agradecemos pelos desejos,
esforços e realizações
que teu Espírito de paz
suscitou em nossos dias,
para substituir o ódio pelo amor,
a desconfiança pela compreensão,
a indiferença pela solidariedade.
Abre mais ainda nosso espírito
e nosso coração
para as exigências concretas do amor
a todos os nossos irmãos,
para que sejamos,
cada vez mais,
artífices da paz.
Lembra-te, ó Pai,
de todos os que lutam,
sofrem e morrem
para o nascimento de um mundo mais fraterno.
Que para os homens
de todas as nações e línguas
venha teu reino de justiça,
paz e amor. Amém.

Livro: Padre Valter Maurício Goedert – Ele está no meio de nós – Meditações Pascais

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