Meditações Pascais – 09 de maio

Ele está no meio de nós

Padre Valter Maurício Goedert

Sábado | 09 de maio de 2020

O AMOR ESTEJA NELES (Jo 17,26)

Na vida íntima, Deus é essencialmente amor. O amor é comum às três Pessoas divinas: amor pessoal é o Espírito Santo, como Espírito do Pai e do Filho. Por isso, ele perscruta as profundezas de Deus como amor, dom incriado (João Paulo II, Carta Apostólica “O Espírito Santo na vida da Igreja e do Mundo”, n. 10).

Enviado pelo Pai, o Espírito repousa sobre Jesus, porque Deus o consagrou com sua unção; Cristo o concede à sua Igreja após a ressurreição. O Espírito Santo é não só dom à Pessoa do Messias e aos seres humanos, mas também uma Pessoa Dom. Cirilo de Jerusalém traduz com muita propriedade esse mistério: “Nós todos, que recebemos o único e mesmo espírito, a saber, o Espírito Santo, unimo-nos profundamente entre nós e com Deus. Pois embora sejamos numerosos separadamente e embora Cristo faça com que o Espírito do Pai e o dele habite em cada um de nós, este Espírito único e indivisível reconduz por si mesmo à unidade os que são distintos entre si… e faz com que todos apareçam como uma só coisa nele mesmo” (Commentarius in Johannem, 11,11: PG 74,561).

Na obra da criação cabe ao Espírito reinar, santificar e animar, como “Senhor e fonte de vida”. Tudo vivifica e conserva. No tempo das promessas, inicia a restauração da criação e da humanidade deturpadas pelo pecado. Através das teofanias, da lei, do reinado, dos profetas, do exílio e da perspectiva do Messias, o Espírito do Senhor renova o coração dos homens, neles incutindo uma nova lei. Reúne e reconcilia os povos dispersos e divididos; transforma a criação para que Deus nela habite com os homens na paz.

Na plenitude dos tempos, o Espírito do Senhor plenifica um homem enviado por Deus, João Batista, repleto do Espírito ainda no seio de sua mãe. O fogo do Espírito habita nele e o faz “correr adiante” do Senhor que vem. Nele conclui a tarefa de falar pelos profetas e anuncia a iminência da consolação de Israel; é a voz do Consolador que vem. Dá testemunho de que Jesus Cristo é o Filho de Deus (Jo 1,33-36).

Com sua graça, o Espírito Santo prepara em Maria um coração segundo Deus, nela realizando o desígnio benevolente do Pai pela concepção virginal do Filho de Deus. Em Maria, a cheia de graça, começa a pôr em comunhão com Cristo os homens, tornando-a a “nova Eva”, a “Mãe dos viventes”, a “Mãe de Cristo total”, a “Mulher revestida de sol”. Afirma Santo Elredo, abade: “Ela é nossa mãe, mãe da nossa vida, mãe da nossa incorruptibilidade, mãe da nossa luz… Sendo mãe de Cristo, ela é, portanto, mãe de nossa sabedoria, de nossa justiça, de nossa santificação com a Igreja: “Sob a tua misericórdia nos refugiamos, Mãe de Deus! Não deixes de considerar as nossas súplicas em nossas dificuldades, mas livra-nos do perigo, única casta e bendita” (Concílio de Éfeso, 4).

Na plenitude dos tempos a missão do Filho e do Espírito Santo está contida no fato de o Filho ser o Unigênito do Espírito do Pai desde a sua encarnação. Jesus é o Messias. Não revela, no entanto, plenamente o Espírito Santo, enquanto ele mesmo não tiver sido glorificado. O Espírito virá, nós o conheceremos. Estará conosco para sempre (Catecismo da Igreja Católica, 727-729).

Em Pentecostes, o Espírito foi derramado sobre a Igreja e sobre o mundo (At 2,33-36). Por conseguinte, a Igreja é obra do Espírito. Ele realiza a comunhão na comunidade eclesial e em cada fiel. É princípio de catolicidade, de apostolicidade e de santidade. Sem ele nenhum esforço ecumênico será coroado de êxito. Sopro de Deus em nossa vida pessoal, o Espírito constitui o princípio e o fim de nossa santificação. Deus nos enviou, afirma São Paulo, o Espírito de seu Filho, que nos torna filhos adotivos. Realiza, personifica, interioriza e integra nossa vida em Cristo. Fecunda nossa oração e nos liberta (Gl 5,16-17).

O Espírito plenifica o universo e renova a face da terra. “Na nova criação de uma nova humanidade todas as nações são chamadas. Pentecostes representa esta vocação. Elas não perdem sua identidade. Todas falam sua língua. A nova humanidade não perde sua identidade por estar unificada em Cristo. O Espírito Santo não obriga as nações a revestir-se de uma roupagem igual” (J. Comblin, O Espírito Santo e a Libertação, Vozes, 1987, p. 69).

Abramos nosso coração e nossa mente ao amor de Deus, derramado em nossos corações pelo Espírito que habita em nós. Peçamos ao Pai que nos envie sempre de novo o seu Espírito, e roguemos: Que teu Espírito, Senhor, plenifique a terra, chegue a todos os povos, abrande os corações endurecidos, conceda seus dons, inspire o que te agrada, reparta seus dons, oriente os que te buscam e conceda o sabor das bem-aventuranças. Amém!

CRISTO SALVADOR E FONTE DE VIDA

Tu que quiseste dar-me a tua carne como alimento
e que és fogo que queima os indignos,
não, não me consumas, ó meu Criador,
mas penetra até as junturas dos meus membros,
nos meus músculos, nos rins e no coração.
Queima os espinhos de todos os meus pecados,
purifica a minha alma, santifica a minha mente,
reforça meus pés junto com os ossos.
Ilumina meus cinco sentidos,
crava-me todo com o teu temor.
Guarda-me sempre, protege-me
e defende-me de toda obra e palavra corruptora.
Purifica-me, lava-me, educa-me,
limpa-me, dá-me inteligência, ilumina-me
faze de mim morada apenas do teu Espírito
e não mais receptáculo do pecado.
Feito assim tua habitação com a comunhão
fugirá como do fogo toda malvadeza e paixão.
Eu te apresento como intercessores todos os Santos,
os príncipes das fileiras incorpóreas,
o teu Precursor, os sábios Apóstolos,
e sobretudo a tua imaculada e puríssima Mãe.
Acolhe, ó meu Cristo misericordioso, as suas preces,
e faze de mim, teu servo, um filho da luz.
Porque só tu és a nossa santificação
e o esplendor das nossas almas,
e todos damos glória todo dia a ti,
como convém a um Deus Soberano.

O Metafrastes

Livro: Padre Valter Maurício Goedert – Ele está no meio de nós – Meditações Pascais

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