Meditações Pascais – 07/05

Meditações Pascais – 07/05

Ele está no meio de nós

Padre Valter Maurício Goedert

Quinta-feira | 07 de maio de 2020

SEM TER VISTO O SENHOR, VÓS O AMAIS! (1Pd 1,8)

A carta aos Hebreus lembra os exemplos de fé dos patriarcas, reis e profetas da Antiga Aliança, e conclui: “E, não obstante, todos eles, se bem que pela fé tenham recebido um bom testemunho, apesar disso não obtiveram a realização da promessa” (Hb 11,39). Pedro convida a exultar de alegria porque, “embora não o tenhais visto, amais; nele, apesar de não o terdes visto, crendo, vos rejubilais com uma alegria inefável e gloriosa, pois que alcançais o objetivo de vossa fé, a saber, a salvação das vossas almas” (1Pd 1,8-9).

“Felizes os que não viram e creram”, assegurou Jesus a Tomé (Jo 20,19). A fé nos situa no número dos bem-aventurados porque exige amor maior, não como fruto da evidência do contato físico, mas como experiência nascida do encontro misterioso e transcendente com Jesus. Maria foi chamada de “bendita” porque acreditou na promessa do Senhor. Como ela, é bem-aventurado todo aquele que põe sua confiança no Senhor Jesus, embora não o tenha apalpado, nem tocado em suas chagas. Deus continuará fazendo maravilhas no coração dos que o temem e o amam.

A fé vivida é transmitida qual herança preciosa: “Ide por todo o mundo”! No seguimento de Jesus, o primeiro e mais perfeito evangelizador do Pai, a Igreja, toda ela, constitui uma comunidade evangelizadora. Como para o apóstolo Paulo, assim para a Igreja a evangelização é uma vocação, um dever (1Cor 9,16). O Papa Paulo VI assegura: “Nós queremos confirmar, uma vez mais, que a tarefa de evangelizar todos os homens constitui a missão essencial da Igreja. Ela existe para evangelizar, ou seja, para pregar e ensinar, ser o canal do dom da graça, reconciliar os pecadores com Deus… começando por evangelizar a si mesma” (EN 14-15).

A gratuidade da fé torna-se motivo de glória, e é levada em conta de justiça: “Não foi escrito só para ele (Abraão) – foi-lhe levado em conta – mas também para nós que cremos naquele que ressuscitou dos mortos Jesus, nosso Senhor, o qual foi entregue pelas nossas faltas, e ressuscitado para nossa justificação” (Rm 4,23-25). A fé supera a simples contemplação filosófica: nasce diretamente do amor. Juntamente com a esperança e a caridade, é atitude de quem caminha rumo ao Pai. A caridade jamais acabará. Na contemplação da Santíssima Trindade, fé e esperança se fundem no amor, porque Deus é amor! Não precisaremos mais crer e esperar no amor; nele vivemos, nos movemos e somos (At 17,28).

Crer é ter certeza daquilo que supera os argumentos da razão humana. Não se trata de um passo no escuro, dado que se fundamenta em Deus e Deus é luz. A fé nos convida a adentrar no mistério de Deus para, como Paulo, ouvir palavras inefáveis que não é lícito ao homem repetir (2Cor 12,4). Crer é superar a evidência dos sentidos para acolher a evidência de Deus. Não significa render-se ao incompreensível, mas confiar na certeza do amor. A fé enobrece o ser humano, porque faz participar da única realidade que não passa: Deus. Somos homens e mulheres de fé quando ultrapassamos os limites da lógica humana para saborear a sabedoria de Deus. Mais que exigir motivos de credibilidade, a fé oferece razões para viver.

ORAÇÃO UNIVERSAL

Pelos que buscam a Deus na incerteza:
que o encontrem.
Pelos que acreditam possuir a Deus:
que o busquem.
Pelos que têm medo do futuro;
pelos que se levantaram e caíram de novo:
que tenham novas forças.
Pelos que se desesperam:
que esperem contra toda a esperança.
Pelos que vivem iludidos:
que ponham os pés no chão.
Pelos que duvidam:
que encontrem a luz.
Pelos que têm um coração tímido:
que encontrem um coração amigo.
Pelos que estão sozinhos:
que possam encontrar alguém.
Pelos que vivem na abundância:
que aprendam a ter fome.
Pelos que têm o coração endurecido:
que alguém o abrande.
Pelos que acreditam ter tudo:
que se sintam vulneráveis.
Pelos que não têm necessidade do Espírito:
que sintam seus próprios limites.
Pelos que não sabem, nem querem escutar:
que ouçam o sussurro de Pentecostes.

Livro: Padre Valter Maurício Goedert – Ele está no meio de nós – Meditações Pascais