Meditações Pascais – 01 de maio

Ele está no meio de nós

Padre Valter Maurício Goedert

CARNE PARA A VIDA DO MUNDO (Jo 6,51)

A assembleia eucarística é formada por um povo que, já por força do batismo, é todo missionário e não pode fechar-se em si mesmo. Todas as vezes que ele é convocado para o banquete eucarístico revive e novamente aceita o seu chamado à missão universal de testemunhar a boa nova do Reino de Deus.

Ao escolher um alimento básico e tão simbólico como sinal de sua presença, Jesus está mostrando o divino envolvido com as necessidades materiais e os esforços humanos. Não é coerente valorizar tanto o ato de Jesus, que escolheu consagrar o pão como sinal de sua presença, e desvalorizar o compromisso de fé com os problemas do mundo do trabalho, como se esse assunto fosse terreno que não interessasse a Deus.

O pão que se ganha para sustentar a família tem muito a ver com o afeto; é por amor que se trabalha para que todos possam comer. As pessoas a quem faltam pão e cuidado não sofrem apenas de uma carência física.

Na perspectiva da libertação, os sacramentos são lugares de contestação, de esperança, símbolos de verdadeira liberdade, onde se realiza a libertação de Cristo, de modo privilegiado, e a comunidade se compromete a favor da libertação de todas as escravidões e opressões humanas, com especial atenção para os mais pobres, os mais fracos e marginalizados. O pobre volta a ser um elemento importante do culto cristão.

Toda eucaristia, particularmente a assembleia dominical, é prelúdio e sinal deste grande festim de todas as nações (Lc 13,29). Até mesmo os excluídos – no contexto sociológico – serão admitidos: cegos, coxos, surdos, especialmente os pecadores serão reabilitados ou colocados em condição de participar desse festim.

A comunhão à mesa com Jesus, a convivialidade tão fortemente acentuada no Evangelho e revivida por nós em cada banquete eucarístico, é inseparável desse impulso dinâmico missionário sem fronteiras, superando todas as divisões e barreiras de raça, de condição social, vencendo todas as discriminações e alienações causadas pelo pecado.

A celebração da eucaristia será, portanto, válida e frutuosa, não só quando os requisitos litúrgicos, teológicos e canônicos forem respeitados, mas também na medida em que constitui celebração conscientizadora e motivadora de ação libertadora do ser humano e da história. São Paulo chama a atenção da comunidade de Corinto por abusos cometidos exatamente nessa perspectiva (1Cor 11,17-34).

A eucaristia, por ter uma estrutura pascal, assume também uma dimensão política. Celebrá-la constitui igualmente assumir em profundidade a realidade humana e histórica em favor de uma nova humanidade. Eucaristia é também problema político. Se ela é sinal de fraternidade e de igualdade, é também denúncia das injustiças e dos egoísmos. Evidentemente, não se deve reduzir a morte de Cristo na cruz a uma mera conseqüência de perseguição político-religiosa de um justo revolucionário! Isso não significa que a vida e a morte de Cristo não tenham uma dimensão política.

A dimensão eclesial da eucaristia é o próprio fundamento de sua dimensão social. A assembleia, mesmo antes de ser uma condição para o culto litúrgico, constitui uma exigência do “ser cristão”, um elemento essencial do “ser” e do “pertencer” à Igreja. A celebração eucarística não é apenas um ato do ministro que preside; constitui uma ação da comunidade cristã, da Igreja. A Igreja celebra a eucaristia e a eucaristia vivifica a Igreja. Celebrar a eucaristia é começar a construir, já aqui e agora, o novo céu e a nova terra.

A eucaristia tem, pois, a dimensão e a eficácia missionária da cruz. É sempre realidade intermediária ou convocação parcial entre o banquete pascal de Jesus e o festim universal das nações, ao qual necessariamente remete e que prepara, quando somos conscientes e responsáveis e quando nos educamos como comunidade para entrar nesse impulso missionário, que se deve prolongar para além da celebração ritual. A Igreja, convocada pela misericórdia de Deus, se torna, por sua vez, convocante para chamar todos os homens, para colocá-los em contato com os dons recebidos, e fazê-los conscientes do que lhes está reservado.

A IGREJA, CAMINHO DE UNIDADE

Pela palavra do Evangelho do vosso Filho
reunistes numa só Igreja
todos os povos, línguas e nações.
Vivificada pela força do vosso Espírito
não deixais, por meio dela,
de congregar na unidade
todos os seres humanos.
Assim, manifestando a aliança do vosso amor,
a Igreja transmite constantemente
a alegre esperança do vosso reino
e brilha como sinal da vossa fidelidade
que prometestes para sempre
em Jesus Cristo, Senhor nosso.

Oração Eucarística para diversas circunstâncias 1

Livro: Padre Valter Maurício Goedert – Ele está no meio de nós – Meditações Pascais

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