Meditações Pascais – 29 de abril

Meditações Pascais – 29 de abril

Ele está no meio de nós

Padre Valter Maurício Goedert

Quarta-feira | 29 de abril de 2020

PALAVRA DE VIDA ETERNA (Jo 6,68)

“Na última Ceia, na noite em que foi entregue, nosso Salvador instituiu o sacrifício eucarístico de seu Corpo e seu Sangue. Por ele, perpetua pelos séculos, até que volte, o sacrifício da cruz, confiando à Igreja, sua dileta esposa, o memorial de sua morte e ressurreição: sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete pascal, em que Cristo nos é comunicado em alimento, o espírito é repleto de graça e nos é dado o penhor da futura glória” (SC 47).

A eucaristia como “fonte e ápice de toda a vida cristã”, constitui clímax tanto da ação pela qual, em Cristo, Deus santifica o mundo, quanto do culto que no Espírito Santo os homens prestam a Cristo e, por ele, ao Pai. Feliz aquele que toma a refeição no Reino de Deus. Se o Pai nos convida, acorramos pressurosos e, como o salmista, provemos como o Senhor é bom (Sl 34,9).

A palavra de Deus é a primeira e fundamental realidade à qual se liga todo o desenrolar do mistério cristão. Este nos revela o desígnio misterioso que desde toda a eternidade está escondido em Deus, e juntamente o prepara, o desenvolve e completa. A Palavra não representa, apenas, certo aspecto secundário da ação de Deus; não exprime só elementos do seu mistério; ao contrário, abrange toda a revelação. Aí se realiza o pacto da Aliança e acontece a história sagrada. Pela palavra, que se fez carne, toda carne é chamada a se tornar palavra de louvor a Deus, num sacrifício espiritual (Rm 12,1).

A liturgia lembra constantemente a palavra que revela Deus; realiza, pois, o contínuo diálogo de Deus com seu povo reunido. A assembléia, por sua vez, acolhe, medita, responde, suplica, dá graças, até identificar-se com a palavra.

Em certo sentido, podemos dizer que o desígnio de Deus não está completo, não atingiu seu objetivo que propusera alcançar no princípio, enquanto a comunidade de hoje e cada um dos fiéis em particular não houverem dado a resposta, única e irrepetível, que cabe a cada um dar, segundo o chamado e a medida dos dons recebidos.

Particular eficácia deve ser atribuída à palavra de Deus antes de tudo pelo fato de ser proclamada dentro da mesma celebração dos mistérios de Cristo, sendo até parte integrante desta, a ponto de formar um único ato de culto (SC 56).

A liturgia da palavra não deve ser considerada apenas um prelúdio ou preâmbulo da celebração propriamente sacramental, porém já é “comunhão com o Verbo”, na fé e na adesão ao amor, tão eficaz e tão necessária quanto a outra comunhão.

A liturgia da palavra e a liturgia eucarística se inserem uma na outra também no sentido e no conteúdo propriamente sacrifical da missa, porque, quando existe em nós a acolhida da fé, igualmente se gera em nós a obediência da fé, isto é, a comunhão com a palavra nos coloca na atitude daquele que se ofereceu em sacrifício, fazendo-se obediente até a morte de cruz, o servo que se imola totalmente na doação pelos irmãos.

A Igreja tem o privilégio dessa presença, porque ela se identifica com o Cristo; é sua continuação. Onde está a Igreja, aí está sua palavra viva.

A palavra de Deus é recebida pela Igreja; na Igreja e por meio dela Deus comunica sua palavra a nós e por nós. Torna-a presente e eficaz. Na Igreja e com a Igreja Deus perpetua, em meio aos homens, seu desígnio de salvação. É a escuta da palavra de Deus que faz nascer a fé. A Igreja não nos legou um livro, mas a palavra. É preciso deixar-se modelar por ela.

A PALAVRA DE DEUS

Reta é a palavra do Senhor,
e tudo o que ele faz merece fé.
Deus ama o direito e a justiça,
transborda em toda a terra a sua graça.
A palavra do Senhor criou os céus,
o sopro dos seus lábios as estrelas.
Feliz o povo cujo Deus é o Senhor,
e a nação que ele escolheu por sua herança!
No Senhor nós esperamos confiantes,
porque ele é nosso auxílio e proteção!

Sl 32

Livro: Padre Valter Maurício Goedert – Ele está no meio de nós – Meditações Pascais