Meditações Pascais – 27 de abril

Ele está no meio de nós

Padre Valter Maurício Goedert

QUEM COMER DESTE PÃO VIVERÁ ETERNAMENTE! (Jo 6,51)

Em Jesus, a Páscoa de Israel se cumpre plenamente. Agora se levanta no horizonte do tempo uma Páscoa definitiva, uma plenitude de alegria, de festa, de louvor, de ação de graças, uma infinita libertação, uma nova criação construída segundo o amor eterno de Deus. Passado um lapso de tempo, Jesus beberá de novo o vinho no Reino do seu Pai. Então, nesse dia criado para a eternidade, começará a Páscoa plena, o banquete escatológico que será o início do mundo novo: “Jahweh Sabaot preparará para todos os povos um banquete… Ele fará desaparecer a morte para sempre, enxugará as lágrimas de todas as faces” (Is 25,6-8).

A eucaristia, memorial da Páscoa do Senhor, não nos faz apenas retroceder, voltar a considerar o evento que se realizou, recordando a paixão, morte e ressurreição do Senhor, mas se abre também à perspectiva futura, enquanto esperamos sua vinda. Cristo já inaugura o novo mundo do futuro e, na humanidade glorificada ele, já começa a transformação dos novos céus e da nova terra (Ap 21,1). Participar da eucaristia é receber o germe da imortalidade, um penhor e uma garantia da ressurreição, da transfiguração final.

O momento da eucaristia é o ponto mais avançado em que a Igreja consegue tocar já no futuro, para o qual tende. Toda celebração eucarística é “viático”, etapa do caminho da esperança em face da terra prometida; mas é simultaneamente nova força para plenificar da glória de Cristo todas as realidades presentes.

A liturgia realça a dimensão escatológica da ceia eucarística: “Anunciamos, Senhor, a tua morte, e proclamamos tua ressurreição, enquanto esperamos tua vinda”. Esse mistério se realiza com intensidade particular pela comunhão recebida como viático. A própria palavra “viaticum” designava, outrora, as provisões ou o dinheiro de que as pessoas se muniam para o caminho (via). A comunhão como viático sela para a eternidade, entre Jesus e os seus, esta comunidade de destino que cada comunhão exprime tão maravilhosamente: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6,56). Cada comunhão é uma promessa de eternidade: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,54).

Nossa celebração, enquanto realizada na terra, está em contato – dela participando – com uma liturgia bastante mais vasta que abrange também o céu, onde se canta e se reza conosco e por nós.

Na eucaristia celeste, onde por toda a eternidade os eleitos cantarão “santo, santo, santo, Senhor Deus todo-poderoso, Aquele-que-era, Aquele-que-é e Aquele-que-vem” (Ap 4,8), celebraremos a perpétua ação de graças, entoando o cântico ao Cordeiro: “Grandes e maravilhosas são as tuas obras, ó Senhor Deus todo-poderoso; teus caminhos são justos e verdadeiros, ó Rei das nações” (Ap 15,3). Poderemos, enfim, clamar: “Vem, Senhor Jesus” (Ap 22,20)! Então a eucaristia terá realizado plenamente sua missão e terminado sua obra, deixando-nos prontos para as núpcias do Cordeiro como a esposa para o seu marido (Ap 21,1-3).

A eucaristia torna possível a mais plena experiência pascal na vida do cristão. Cristo Eucarístico, caminho, verdade e vida sacia toda fome de felicidade, satisfaz toda sede de amor. Jamais façamos da participação na eucaristia uma incômoda obrigação. Pelo contrário, trata-se de um privilégio podermos encontrar aquele que é a razão do nosso viver. Constitui especial prova de amor e de predileção sermos convidados pelo Esposo, o Cordeiro Pascal, para suas núpcias (Ap 19,9).

A eucaristia precisa ser ansiosamente desejada, buscada, para que nos transformemos naquele que assumiu as espécies de pão e de vinho, a fim de que tenhamos vida e vida em abundância.

EIS QUE O VERBO!

Eis que o Verbo, habitando entre nós
sem do Pai ter deixado a direita,
chega ao fim de seus dias na terra,
completando uma obra perfeita.

Conhecendo o Senhor quem iria
entregá-lo na mão do homicida,
quis aos doze entregar-se primeiro
qual perfeito alimento da vida.

E debaixo de duas espécies
o seu Corpo e o seu Sangue nos deu:
alimento vital para o homem,
que se nutre do Corpo de Deus.

No presépio quis ser companheiro,
como Pão numa ceia se deu.
Foi na Cruz nosso preço e resgate
e será nosso prêmio no céu.

Hóstia pura, trazeis salvação,
e do céu nos abristes a porta.
Inimigos apertam o cerco,
dai-nos força que anima e conforta!

Ao Deus Uno e Trino, o louvor,
toda a glória e poder sempiterno,
e a vida sem fim nos conceda,
lá na Pátria, no Reino Eterno!

Tomás de Aquino

Livro: Padre Valter Maurício Goedert – Ele está no meio de nós – Meditações Pascais.

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