A terceirização da culpa

Coitada da culpa, sempre terceirizada! As pessoas tem a mania de dizer: “Isto não é problema meu! Não tenho nada a ver com isto! A culpa não é minha!”. Sinto realmente pena da culpa, ela sequer pode se defender!

Pesquisando alguns conceitos de culpa nos inúmeros dicionários encontrei vários significados com a mesma raiz, todas enfatizando a responsabilidade por algum ato; certamente por um ato falho ou criminoso. Sim, porque não se sente culpa do que é bom. A culpa é um sentimento negativo, ruim, que provoca uma revolução dolorosa na consciência. Se o indivíduo se sente culpado é porque transgrediu algo, do contrário estaria em paz!

Por que terceirizar a culpa? Por razões óbvias! É mais fácil ver “o cisco no olho do outro do que perceber a trave no próprio olho” (Mt 7,3). Em outras palavras, quando responsabilizo o outro pelos atos falhos da sociedade, estou fugindo da minha parcela de culpa. Sendo assim, tudo continuará da mesma forma, nada mudará porque não há culpados.

Assim acontece em todas as estruturas e camadas sociais desde a família até o mais alto grau do poder político. Nisto todos somos iguais, nos nivelamos. Toda vez que deixamos de reconhecer o que poderíamos ter feito, ter contribuído, ter ajudado, ter promovido melhores condições de vida, nos igualamos aos culpados. Acabamos fechando um círculo vicioso que nos engolirá e nos privará de sermos bons cidadãos. Nos colocamos dentro desta redoma e repetiremos as mesmas atitudes.

A culpa maior é não ter culpa! Vemos um mundo caótico se destruindo e não encontramos culpados. A natureza morrendo por falta de cuidados, o homem ganancioso alimentando seu egoísmo, nações em guerra, falta de condições básicas de sobrevivência, violência, idolatria ao dinheiro, etc. Tudo isto, é só um indicador de que precisamos mudar nossa existência e começar a refletir sobre nossos atos responsavelmente.

Todas as coisas estão interligadas, nada é isolado. Portanto, não adianta terceirizar a culpa, pois estamos na mesma rede, somos da mesma família, moramos no mesmo mundo e toda culpa do outro passa a ser minha também. Não adianta fugir das responsabilidades. O jeito mesmo é tomar consciência dos atos e começar a mudar. Ficar de braços cruzados esperando um milagre não resolve os problemas. Cada qual deve fazer sua parte e levar o outro a se empenhar também.

Só assim, deixando de terceirizar a culpa e colocando-a em primeira pessoa é que transfiguraremos o mundo. A culpa é minha, é nossa! Eu mudo, nós mudamos!

About Author

Padre Niton Cesar Boni

Missionário Filho do Imaculado Coração de Maria - Claretiano. Bacharel em Filosofia pelo Centro Universitário Claretiano de Batatais/SP e Teologia pelo Studium Theologicum de Curitiba/PR. Pós-graduado em Espiritualidade pela FAVI. É vigário paroquial da Paróquia do Imaculado Coração de Maria e formador dos estudantes de teologia. | Contato: [email protected]

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